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Como hábitos digitais interferem na memória e senso crítico

Você já parou para pensar se estamos de fato evoluindo ou apenas acrescentando facilidades demais em nossas rotinas? E como isso nos fez, biologicamente falando, estagnar? Basta pensar nos inúmeros aparatos tecnológicos que fazem parte dos nossos hábitos digitais – e nos que ainda estão sendo inventados.

Muitos acabam sendo extensões de nossos sentidos e habilidades, enquanto outros aceleram tarefas e até os costumes que adquirimos ao longo de nossas vidas. A mesma lógica já acontece no universo dos textos. Artigos online podem ser ouvidos ou estão adaptados para vídeos e, com a ajuda de audiobooks e resumos de livros densos, podemos conhecer uma obra em 15 minutos ou menos.

Essas transformações foram importantes paras as rotinas atribuladas e ultra contemporâneas. O desejo por manter hábitos antigos criou a necessidade de encaixá-los no tempo já ocupado por tarefas e consumo automático de informação digital.

Mas esses mesmos costumes digitais estão alterando a nossa percepção de tempo e espaço e, no caso da leitura, estão modificando a forma como interpretamos os textos. Afinal, quem nunca reclamou de não conseguir se concentrar em um texto?

Mais telas

Se nos últimos tempos a sua percepção e capacidade de se concentrar caíram, saiba que não está sozinho. Quem explica os motivos para isso é Maryanne Wolf no livro O Cérebro no Mundo Digital.

A pesquisadora e diretora do centro de dislexia da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) discute sobre como o nível de atenção cada vez mais baixo é resultado de um processo guiado pelo uso excessivo de telas, sejam de celulares, tablets ou computadores.

Levando em conta que a leitura foi uma habilidade adquirida ao longo da evolução humana, o cérebro também se moldou rapidamente para “passar os olhos” por palavras cada vez mais rápido, captando menos do assunto proposto do que em uma leitura minuciosa.

Os hábitos digitais também favorecem leituras menos aprofundadas e tornam a compreensão de argumentos complexos mais difícil ou inexistente. Em seu livro, Maryanne lembra que uma leitura apurada nos torna capazes de distinguir o que é verdade e, inclusive, complementar uma informação com nosso próprio conhecimento.

Ler profundamente até mesmo ajuda a absorver conceitos, pensar sobre problemas complexos e entender ideias e opiniões diferentes das que já possuímos naturalmente.

A principal preocupação nesse campo, e da autora, está relacionada com o futuro das próximas gerações, que já crescem em contado com o digital. Uma capacidade desenvolvida ao longo de milênios, como no caso da leitura profunda, pode se perder nos próximos tempos, assim como a importância das obras extensas e impressas.

Somado a isso, Maryanne lembra ainda que não se ater a um texto pode diminuir nossa capacidade de sentir empatia pelas pessoas e, inclusive, reprimir nossa vontade de aceitar desafios para ir além dos limites do conhecimento.

Memória

Não temos só problemas com texto como também a nossa memória e capacidade de reter informações vêm encurtando rapidamente. As culpadas continuam sendo as mídias digitais, com o acréscimo da exposição e registro de tudo – muitas vezes absolutamente tudo – por meio de fotos.

Essa obsessão em documentar foi analisada em um estudo de 2017 e os efeitos positivos se mostraram quando as pessoas conseguiam lembrar de objetos e detalhes das cenas capturadas. Isso se explica pelo fato de que as pessoas procuram conhecer o espaço e por coisas interessantes antes de tirar a foto, ajudando a memorizar o local e seus componentes.

Mas o que parecia otimista, também tem seu lado ruim. A memória de longo prazo não consegue reter tantos detalhes uma vez que confiamos demais na lembrança que as fotos nos proporcionam. Portanto, é bem mais fácil para você lembrar do que comeu no almoço se tiver postado o prato no Instagram.

A memória é um fenômeno essencial para o humano, pois foi com ela que evoluímos e aprendemos. Para cada ato que praticamos, nosso mecanismo de lembranças é ativado. E, apesar de o esquecimento ser um mecanismo natural para eliminar dados insignificantes para nossos cérebros, ele pode ser um problema quando não conseguimos recordar de coisas importantes.

Confiar demais na tecnologia é um ato comum atualmente, mas treinar a memória ajuda a manter nossa atenção aos detalhes, como saber onde você deixou as chaves de casa pela última vez. Para estimular o cérebro, é recomendado tentar aprender sempre coisas novas, minimizar o estresse, manter o foco em vez de fazer as coisas mecanicamente e, por fim, se dedicar à leitura, que ainda é o melhor exercício para manter e melhorar a memória.

Você também sente os efeitos da exposição digital? Conta para a gente nos comentários 😉

Autor (a)

Ana Rízia Caldeira
Ana Rízia Caldeira
Boa ouvinte, aprecio demais os momentos em que posso ver o mundo e conhecer as coisas pelas palavras das outras pessoas. Não por menos, entrei para o jornalismo. E além de trazer conteúdos para o Next, utilizo minhas habilidades de apuração e escuta para flertar com a mini carreira de apresentadora nos stories do MBA USP/Esalq, no quadro Você no Camarim.

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