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Qual MBA eu faço? Algumas considerações politicamente incorretas

Artigos, reportagens, releases, enfim, materiais de mídia sugerindo os benefícios de se realizar um MBA tem aos montes. A grande maioria trata-se de conteúdo sério, confiável e realmente evidenciam as vantagens dos cursos e instituições que os promovem. Mas também tem muito material “raposa cuidando do galinheiro”. Nesse sentido, utilizando da breve experiência que tenho no meio, decidi escrever algo diferente, meio politicamente incorreto, visando, sobretudo, contribuir com suas tomadas de decisão. É provável que eu leve xingo do meu time de comunicação/comercial, mas vamos em frente…

Primeiro, você já parou para pensar por que precisa de um MBA?

Quero aumentar meu salário, ser promovido, arrumar um emprego e coisas do gênero. Sem dúvidas ter uma especialização no currículo gera um preconceito positivo em relação a você e, claro, vai colaborar (e não necessariamente ser determinante) para sua carreira. Não há motivos para pensar o contrário. Agora, achar que MBA é Pokemon e sair caçando não vai garantir que você se torne CEO ou tenha um salário legal. A propósito, como cursos de graduação e pós-graduação Lato sensu (que se enquadram os MBAs) estão ficando cada vez mais acessíveis, é natural que ao passar do tempo eles caiam meio que em uma “vala comum” de atributos. Inclusive já existe um certo esboço desse comportamento “menos papel e mais habilidade”, manifestado, a propósito, pelo próprio CEO do Linkedin, Jeff Weiner (reportagem). Ter uma especialização é interessante, mas ela por si só não faz milagre. Sua evolução profissional depende de uma série de fatores e talvez o MBA não seja seu limitante no momento. Neste sentido, recomendo a leitura de um outro artigo para melhor entendimento: Como as 3 leis gerais da adubação limitam seu crescimento profissional.

Quero aumentar meu networking. É claro que vai conseguir. Qualquer tipo de evento que proporcione a conexão entre pessoas é um networking. Se você tomar café na mesma padaria todos os dias, é provável que estabeleça novos relacionamentos e surjam novas oportunidades profissionais. Evidente que existe o lance mais “profissional” quando se fala de um contexto de MBA dedicado à uma temática, onde muitos objetivos são comuns e que, lógico, a probabilidade “novos negócios” seja maior do que em uma padaria. Mas, convenhamos, em tempos de redes sociais que servem de catalisadores aos propósitos – o Linkedin é profissional; o Tinder é pegação; e por aí vai – será que esse é mesmo um diferencial? Um bom networking depende, sobretudo, de você! O comportamento “entrar mudo e sair calado”, não vai alavancar conexões nem em boteco. Talvez a melhor forma de interagir e fazer contatos é contribuindo com considerações, materiais, o que for, com a comunidade que escolher. Lembre-se, “quem não é visto, não é lembrado”. Só cuidado também para não exagerar e se tornar “o legalzão”.

Quero continuar estudando/me manter atualizado. Um motivo nobre. Como disse Einstein: “A vida é igual andar de bicicleta. Para manter o equilíbrio é preciso se manter em movimento”. Continuar estudando é fundamental para o desenvolvimento contínuo, especialmente em um contexto tão dinâmico e inovador que vivemos, onde o intervalo entre a inovação e o obsoletismo é cada vez menor. Agora, será mesmo que sua “bicicleta” neste momento, precisa ser necessariamente um MBA? Tem gente que forma e já vai “seco” fazer uma especialização na área (falaremos disso mais adiante), sendo que se fizer uma autoavaliação perceberá que existem outras habilidades à serem melhoradas, estas, que se supridas, podem melhorar seu potencial como um todo, inclusive, seu aproveitamento no MBA. Simples reflexão: Será que neste momento a “bicicleta” a ser escolhida não é o inglês em vez do MBA? Será que com o valor investido na especialização (diga-se de passagem, um bom valor) não é possível viabilizar um curso de idiomas no exterior? O inglês foi apenas um exemplo. A melhor pessoa para identificar seu limitante é você!

Bom, se você concluiu que realmente precisa de um MBA, o próximo passo é definir o que e onde fazer. Começando pelo primeiro, se você tiver pouco tempo de formado, eu não sei exatamente o que você deve fazer, mas sei o que você não deve fazer. Não faça um curso relacionado diretamente com sua formação e, principalmente (caso a possibilidade exista), na instituição que você formou. É “chover no molhado”. Vamos a um exemplo e, lógico, não serei politicamente correto e vou aproveitar para ocasião para fazer um “jabá”. O Pecege, instituição que represento, é responsável pela coordenação e operacionalização dos MBAs USP/Esalq, oferecendo 7 diferentes cursos. Um desses é o MBA em Agronegócios que, se tratando de Esalq (lá vem o esalqueano mala), é a melhor escola de agronomia do país, melhor da América Latina, quinta melhor do mundo, enfim, “A” referência em ciências agrárias. Agora me diga, qual a vantagem de um recém-formado em Engenharia Agronômica pela escola de fazer tal curso? Quanta agregação de valor haverá? Boa parte dos professores são os mesmos. O conteúdo não é tão dinâmico assim. Ou seja, você vai ter praticamente a mesma aula, só que agora com um plus: pagando. Olha que maravilha! Portanto, não recomendo. E mesmo você que não é formado na escola, mas tem graduação em áreas correlatas à ciência agrárias, não é um grande negócio… Vai fazer outra coisa cara, é provável que agregue bem mais (voltamos à questão dos limitantes). Tem 6 diferentes cursos pra você escolher (double “jabá”): Gestão de Negócios, Gestão de Projetos, Gestão em Cooperativas de Crédito, Gestão Escolar, Marketing e Varejo/Mercado de Consumo. Evidente, a linha de raciocínio foi para o agronegócio/Esalq, mas pode ser aplicada a qualquer temática/instituição. Agora, se você já tem um certo tempo de formado, uma reciclagem é muito da bem-vinda!

Definido o que fazer, agora é escolher onde fazer e, lógico, você vai buscar instituições tradicionais, principalmente, se sua graduação não foi nestas escolas e você quer dar uma “bombada” no seu currículo. Nada de errado com isso. Todos queremos estabelecer um tipo de escala “Harvard” em nosso “vitae”. Quem fala ao contrário é mentiroso. E sim, a tendência é que a “tradição” se comprove na prática, de modo que você terá boas aulas, com ótimos professores e todo glamour envolvido. Caso contrário, a instituição não seria o que é, certo? Mas já lhe adianto, mesmo os “templos sagrados” e seus “medalhões” estão sujeitos à “broxadas”. Não é incomum você estar diante de nomes consagrados, que já escreveram e publicaram trocentos livros, praticamente referências bibliográficas “vivas” e durante a apresentação você pensar: “Nossa, que bosta de aula! Esse é o famoso fulano de tal?”. Neste sentido, o que deve-se entender é que um bom pesquisador/escritor não é necessariamente um professor (e o inverso é verdadeiro). Na verdade, a mensagem que quero deixar é: valorize a tradição, mas também amenize seu preconceito em relação à instituições/professores não tão badalados. Tem uma “jovem guarda” muito promissora por aí.

E por fim, talvez o último questionamento seja, presencial ou a distância? Muitas pessoas ainda são receosas em relação ao ensino a distância. Algumas reações: “Será que aprende mesmo?”; “Aí, pra mim não vai!”; “Tem que ser presencial”; “Eu sou old school”, “Não consigo prender a atenção”; e por aí vai… (mas que vai na aula presencial e fica “boiando”, pensando na “morte da bezerra” ou na balada pós aula, etc… isso ninguém fala. Papo pra outro artigo). Uma questão de gosto, indiscutível, mas também de resistência ao novo. Tem muita gente que refuta sem se quer experimentar. Trata-se, sobretudo, de sair da zona de conforto (ou entrar né, afinal você pode assistir do sofá da sua casa, pausar quando desejar, ir mijar, tomar uma água, rever o conteúdo, etc…) e autodisciplina. Ao meu ver o EAD é como o internet banking no início dos anos 2000. Pouca gente usava, muita desconfiança… Em 2018, segundo a FEBRABAN, 58% das transações bancárias foram realizadas via internet/mobile banking. E o segmento só cresce, sendo que cada vez mais somos turistas nas agências bancárias. Um movimento que já vem acontecendo e só tende a aumentar na área de educação (mas isso também é papo para outro artigo, esse já ficou extenso demais…).

Enfim, muitos fatores a serem ponderados. Mas uma coisa é certa: independente das razões que o levaram a fazer, de onde, o que e como fazer, seu desenvolvimento depende, sobretudo, de você! Como colocou o grande professor, orientador e amigo Caetano Ripoli: “Ninguém ensina nada para ninguém. Pais, professores, livros, multimídia, etc., são meios que facilitam o aprendizado de quem quer aprender”.

Botão (João Rosa) é professor do Pecege e youtuber no canal Botão do Excel.