Você já pensou em como o trabalho home office pode influenciar o gerenciamento de equipes? Muitas empresas adotaram o trabalho remoto em 2020 e, com o passar do tempo, retornaram ao presencial ou aderiram ao modelo híbrido (alguns dias de home office, alguns dias no escritório). Qualquer que seja o seu caso, a verdade é que nunca se falou tanto no assunto como agora, especialmente no que diz respeito à eficiência das equipes e seu bom gerenciamento.
Se você acha que está livre de pensar no tema, saiba que, nos últimos anos, o aumento exponencial de pessoas trabalhando de forma remota causou grandes mudanças na estrutura das empresas e o gerenciamento de equipes híbridas ou a distância é uma habilidade fundamental para os líderes de hoje.
Apesar de o trabalho remoto já ter sido aceito como eficiente e válido, os encontros presenciais fazem muita falta nas empresas. Com a internet nos tornamos capazes de nos comunicar a qualquer hora e de qualquer lugar, criando ecossistemas virtuais complexos. Mesmo assim, a comunicação digital ainda tem desvantagens severas em relação a uma convivência presencial e isso tem afetado, também, o ambiente de trabalho.
Pensando nisso, entrevistamos Dante Mantovani, professor dos MBAs USP/Esalq, sobre os desafios do gerenciamento de equipes no home office e como superá-los. Confira a entrevista na íntegra!
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Os problemas
Pergunta: Quais as maiores dificuldades que os líderes enfrentam no gerenciamento de equipes no home office?
Resposta: “Ao longo desses dois anos de pandemia, o gerenciamento de times remotos evoluiu no sentido de o líder conseguir acompanhar e desenvolver a equipe. No início, havia a preocupação de saber como manter o controle sem sufocar e ao mesmo tempo criar momentos de desenvolvimento. Hoje, foi quebrado o tabu de que isso não era possível. Se antes achavam que trabalho remoto era benefício ou que as pessoas usavam isso para não trabalhar, hoje viram que funciona. Os líderes já conseguem gerenciar os times remotos com menos dificuldade do que no começo da pandemia. Ainda assim há desafios relativos ao engajamento e sensação de pertencimento. Outro grande desafio é recuperar a velocidade com que se resolvem as questões de rotina em ambientes remotos.”
Pergunta: Quais impactos essas dificuldades causam nas empresas?
Resposta: “No presencial, os problemas eram resolvidos bastando se virar para a pessoa que estava ali ao seu lado, ou ir à mesa da pessoa que poderia ajudar. O líder, às vezes, juntava ali na hora duas ou três pessoas e resolvia rápido e de forma participativa. No remoto, tudo virou reunião.
Alguns líderes de empresas que atendo como consultor questionam o mito da produtividade do remoto: se, por um lado, sentimos um aumento da produtividade pessoal por não pegar duas horas de trânsito, por outro lado, algumas decisões ficaram mais lentas por conta da dificuldade de interação. Como ser tão produtivo quando as pessoas sentem o peso do cansaço de olhar para uma tela oito horas por dia, da falta de estar ali, junto, para agilizar a resolução de problemas? Estamos compensando a perda de agilidade trabalhando mais, utilizando as horas que antes eram gastas com deslocamento. Isso gera uma sobrecarga, e nem as empresas nem as pessoas estão preparadas para lidar bem com isso.”
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Há solução?
Pergunta: Como os líderes podem superar essas dificuldades?
Resposta: “A volta para o ambiente físico, mesmo que alguns dias por mês, é importante tanto para o pertencimento e engajamento quanto para a agilidade para resolver problemas de rotina. Conviver na área de café, ter os encontros casuais, isso tudo ajuda e pode ser mais bem aproveitado no modelo híbrido. Nesses momentos, as pessoas interagem mais, estando fisicamente próximas e rapidamente resolvendo os problemas, sem ter de marcar reunião para tudo.”
Pergunta: Você tem algumas dicas para os líderes?
Resposta: “Para o momento em que se está no remoto, uma dica prática é combinar com o time de eliminar o pedido protocolar pelo WhatsApp ‘Posso te ligar?’ na esperança de que o outro esteja online. A maioria das pessoas vão ver esse pedido horas depois e quando respondem “Sim” já se perdeu o timing. Combine, então, de pedir para a pessoa ligar, sem perguntar. Se puder, você atende na hora, se não puder, envie uma mensagem para combinar quando dá para falar.
Outra dica básica é dosar bem os momentos de acompanhamento da rotina de gestão: fazer semanalmente a reunião de alinhamento de time para todos estarem na mesma página e garantir que todos estão antenados nas mesmas questões, e fazer o 1:1 semanal ou quinzenal para acompanhar os projetos, com agenda, tópicos a serem acompanhados e momentos de feedback ou aprendizagem.”
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O futuro do trabalho
Pergunta: O que você vê para o futuro do gerenciamento de equipes no home office?
Resposta: “Houve um encantamento com o remoto. Muitas empresas reduziram o espaço físico, entregaram andares inteiros por conta do home office. Agora as empresas estão criando o encantamento em ‘voltar’. Surgirá a necessidade de voltarmos a ter mais postos físicos de trabalho e se as empresas acharem que o presencial vai trazer muito mais agilidade do que o híbrido/remoto, voltarmos a ter a cultura do presencial.
Há um jogo de forças, pois uma parte das pessoas prefere ficar em casa, por morar longe do escritório, conseguir fazer academia na hora do almoço ou ficar com os filhos, especialmente as pessoas que mudaram para o interior e redesenharam a vida nesse período de pandemia. Para estes, seria um transtorno fazer uma volta para o presencial. Há outras pessoas que preferem e até precisam conviver com gente no trabalho. Como vai ser? Ninguém sabe ainda o que vai prevalecer.”
Pergunta: Como esse cenário influencia a saúde mental dos profissionais?
Resposta: “A pandemia trouxe muita dor e perdas e o remoto trouxe muita sobrecarga. Isso tudo começou a pesar mais e provocar questionamentos do tipo: “É isso que quero para minha vida?’, ‘Qual sentido em ficar a vida inteira me matando na frente da tela do computador?’. Quem questiona e busca alternativas, acaba pedindo para sair em busca de algo que faça mais sentido para suas vidas, mesmo ganhando menos.
Acredito que as empresas que continuarem a investir em saúde mental e abrirem espaços de diálogo para melhor configurar o balanço entre presencial e o remoto estarão na frente na criação de um ambiente em que os profissionais mais disputados pelo mercado queiram ficar.”
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