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Autoconhecimento e inteligĂȘncia emocional: como essas habilidades se encaixam agora?

É impossĂ­vel encontrar uma Ășnica pessoa que nĂŁo tenha sofrido alteraçÔes em sua rotina recentemente. E neste momento, cabe uma reflexĂŁo: vocĂȘ consegue se descrever como alguĂ©m que domina o autoconhecimento e inteligĂȘncia emocional?

Antes de tudo, vamos entender a inteligĂȘncia emocional, habilidade que o autor Daniel Goleman e estudioso sobre o assunto desdobra em cinco grandes eixos: autoconhecimento, controle emocional, automotivação, reconhecimento das emoçÔes em outras pessoas e capacidade de relacionamento interpessoal.

Segundo Talita Cordeiro, professora do curso de GestĂŁo de Pessoas no MBA USP/Esalq, o ato de reconhecer nossas emoçÔes e refletir sobre o autoconhecimento e inteligĂȘncia emocional tem tudo a ver com o momento que estamos vivendo.

“SĂŁo aspectos internos que ajudam a controlar o estresse e a ansiedade, sentimentos que surgem nas ocasiĂ”es em que as pessoas estĂŁo mais sensĂ­veis, como Ă© o caso agora”, lembra.

Apesar de quase toda literatura sobre inteligĂȘncia emocional pontuar o desenvolvimento do autoconhecimento e da automotivação, dificilmente conseguimos utilizar essas habilidades nas situaçÔes mais crĂ­ticas. Portanto, saiba o que fazer para colocar esses elementos em prĂĄtica o quanto antes.

O erro das metas impossĂ­veis

Atualmente, parece que ficou impossĂ­vel para qualquer pessoa criar ou manter metas, inclusive pela consciĂȘncia de que os dias estĂŁo cada vez mais incertos. Segundo Talita, traçar metas muito especĂ­ficas e definitivas Ă© algo realmente mais difĂ­cil para esse momento e, em certas doses, insustentĂĄvel.

“Mas quando não temos metas ou uma direção para onde caminhar, mais dificuldade temos de nos mantermos nos eixos, justamente porque as metas são elementos estruturantes das nossas vidas”, pontua.

Então, se não podemos viver sem metas, como criå-las em situaçÔes difíceis? A resposta dos especialistas em gestão de pessoas e autogestão é bastante simples: faça metas de curtíssimo prazo.

“Inclusive para questĂ”es de liderança, ter metas pequenas significa pensar no que deve ser feito na semana e trabalhar naquilo que se consegue entregar, dentro do que conseguimos colocar energia”, reforça Talita.

A professora recomenda que esse plano de curta visĂŁo seja aplicado tambĂ©m em situaçÔes fora do trabalho, pois ajuda a regular melhor o tempo vivido em distanciamento social. É aĂ­ que entram o autoconhecimento e inteligĂȘncia emocional, que servirĂŁo para entender o quanto as metas exigem de vocĂȘ e como elas podem ser encaradas sem danificar suas emoçÔes.

Recompensas

Para cada esforço, deve existir uma gratificação. E Talita lembra que isso só acontece quando trabalhamos nossa rotina ao nível das aspiraçÔes, e não das metas propriamente ditas, criando propostas diårias sobre como se desenvolver, profissionalmente ou não.

“Isso tem que ser feito de uma forma controlada, mas sem exigĂȘncias. Precisa ser sustentĂĄvel, e nĂŁo impossĂ­vel. O sustentĂĄvel vem no sentido de se questionar: o que preciso fazer nesta semana para me desenvolver pessoalmente? O que posso ou consigo fazer hoje para me sentir melhor e cuidar de mim?”, aconselha.

Junto com os questionamentos, a professora lembra que Ă© importante sempre se reconhecer quando realizar cada uma das propostas, mesmo que elas sejam coisas pequenas. Isso demonstra domĂ­nio das habilidades de autoconhecimento e inteligĂȘncia emocional.

“Mentalmente temos que nos dar recompensas. É importante ficar feliz e satisfeito com essa meta alcançada hoje e no dia seguinte se fazer outras propostas, mas sempre se perguntando: amanhĂŁ consigo mais ou vou manter a qualidade que alcancei hoje?”. Manter tambĂ©m Ă© algo positivo.

Pesos diferentes para produtividade

Se tem alguĂ©m que reclama de baixa produtividade no trabalho remoto, vai haver outro defendendo a modalidade. NinguĂ©m estĂĄ errado ao analisar a prĂłpria situação, mas vale observar bem um ponto: a produtividade aumentou ou vocĂȘ estĂĄ prolongando seu tempo de produção?

Dito isso, qual a ligação da produtividade com o autoconhecimento e inteligĂȘncia emocional?

Sem as distraçÔes de uma rotina normal, como enfrentar o trùnsito e se trocar para sair diversas vezes, as pessoas podem deixar de ter lazeres e outras tarefas que não sejam relacionadas apenas a trabalho e estudo.

“O trabalho acaba sendo um grande consumidor do nosso tempo. Essa Ă© atĂ© uma preocupação, pois perdemos o cuidado com a saĂșde emocional. A vida nĂŁo Ă© e nunca deve ser sĂł trabalho”, alerta Talita.

Para ela, as pessoas estĂŁo fazendo mais do que faziam antes, mesmo que isso esteja acontecendo em mais horas. A professora Ă© enfĂĄtica: o conceito de produtividade Ă© fazer mais, sĂł que no mesmo tempo de sempre.

Portanto, a habilidade de se questionar sobre um esforço alĂ©m do normal e o que ele estĂĄ causando na rotina Ă© importante para manter um nĂ­vel de produtividade sustentĂĄvel, tanto no home office quanto no trabalho presencial. 

O que realmente importa?

Trazendo para uma anĂĄlise psicanalĂ­tica, o tempo de trabalho estendido Ă© totalmente contrĂĄrio do que gostarĂ­amos. “Normalmente, nĂŁo curtimos a ideia do chefe controlando nosso horĂĄrio, com um conceito antiquado de produtividade. E agora, para que eu me sinta produtivo, tenho que trabalhar mais horas?”, provoca Talita.

Segundo a professora, essa medida foi julgada como inadequada o tempo todo pelas pessoas, mas, por nĂŁo conseguirem se autorregular, parece ser a Ășnica forma de avaliar sua produtividade.

De uma forma geral, a professora reforça que o autoconhecimento e inteligĂȘncia emocional trazem uma sĂ©rie de reflexĂ”es importantes para entender o que estamos aprendendo no processo de quarentena e no pĂłs, alĂ©m de mostrar novas formas de se autorregular.

Neste momento, essas habilidades servirão também para medir o que realmente é importante e o que deixou de fazer sentido. Por exemplo, ter uma vida social cheia de compromissos pode não ser mais tão interessante do que passar um tempo com as pessoas da sua casa.

“SĂł que essas sĂŁo coisas que identificamos sozinhos, porque sĂŁo respostas muito pessoais e ninguĂ©m pode falar por vocĂȘ. O que meu vizinho aprendeu nĂŁo Ă© o mesmo que eu aprendi. EntĂŁo, cabe aqui um tempo e insistĂȘncia para gerar insights”, ressalta Talita.

O processo de reflexĂŁo contĂ­nua Ă© fundamental para o autoconhecimento e inteligĂȘncia emocional, que vĂŁo te ajudar a fazer uma melhor gestĂŁo da vida pessoal e profissional. Preparado para começar?

Autor (a)

Ana RĂ­zia Caldeira
Ana RĂ­zia Caldeira
Boa ouvinte, aprecio demais os momentos em que posso ver o mundo e conhecer as coisas pelas palavras das outras pessoas. NĂŁo por menos, entrei para o jornalismo. E alĂ©m de trazer conteĂșdos para o Next, utilizo minhas habilidades de apuração e escuta para flertar com a mini carreira de apresentadora nos stories do MBA USP/Esalq, no quadro VocĂȘ no Camarim.

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