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Guia politicamente incorreto para defesa de trabalhos acadêmicos

A partir do momento que você se dispõe a realizar uma graduação ou pós-graduação, seja de natureza stricto ou lato sensu (especializações, MBAs), uma coisa é certa: o desenvolvimento de um trabalho de conclusão de curso e, consequentemente, sua defesa. Não é à toa que apresentação do documento final tira o sono de muita gente. Já começa pelo nome: DEFESA. Ou seja, parte-se do princípio que você será atacado e terá que se defender! Sem contar a ARGUIÇÃO, que segundo o dicionário, dentre as possibilidades de significado, remete a “impugnação de argumentos contrários” ou “citação de razões/motivos para provar/defender algo”. Ou seja, termos que carregam uma conotação de medo. Em minha carreira acadêmica fui submetido a quatro eventos de defesa. Hoje, entretanto, estou jogando do outro lado, atuando como avaliador. Neste sentido, afim de contribuir para futuros candidatos a títulos acadêmicos, listo a seguir, nos moldes da série “guia politicamente incorreto” (uma bela coleção, diga-se de passagem), algumas considerações:

A banca

A primeira coisa que você tem que entender é: a banca não é sua inimiga. Nenhum membro, por mais “durão” que seja, ao ser convidado para uma defesa pensa: “Oba! Mais um para eu comer o fígado!”. Ninguém aceita um convite para participar da banca com o intuito de ficar encontrando brechas para prejudicar o candidato. Pelo contrário, o objetivo é avaliar o trabalho e, sobretudo, realizar considerações para que o mesmo fique melhor ainda. Inclusive, se o trabalho estiver interessante, é de extremo interesse do membro ser convidado para uma publicação seguinte (#ficadica) no formato de “paper”. Afinal, um dos grandes balizadores da academia, infelizmente, é a quantidade de trabalhos publicados. Ou seja, quanto mais, melhor (mas isso é papo para outro artigo). Deve ser destacado ainda que é o desempenho do candidato em relação ao trabalho que vai ser avaliado e não sua história de vida. Portanto, se você ouvir críticas na defesa – o que provavelmente vai acontecer, porque ninguém é perfeito – não leve isso para o lado pessoal. Como já colocado, o membro não é seu inimigo e tão pouco quer criar uma inimizade. A pauta é o trabalho e não você. Agora, se tem uma coisa que a banca não gosta é do “malandrão”. Se os membros cismarem que seu trabalho na verdade não é seu, se prepare. Como diria aqui no interior, “aí o fumo entra”. Alguns candidatos são “surpreendidos” pelo prazo e entram em desespero, caindo na besteira de comprar trabalhos. E infelizmente o comércio de trabalhos acadêmicos é comum, especialmente nos cursos lato sensu. Então vai outro #ficadica: antes um trabalho regular feito pelo autor do que um perfeito terceirizado. E a palavra mágica para desenvolver um trabalho, assim como praticamente todas as tarefas existentes, é planejamento. Independente da natureza do curso as “regras do jogo” são conhecidas desde o início. E como colocado na introdução do artigo, uma das regras é o trabalho de conclusão, com prazo definido desde o princípio. Portanto, se você quer realizar um bom trabalho, não deixe para a última hora.

A infra

A infraestrutura, ou seja, a responsabilidade pelas condições físicas da defesa, em geral, não é do candidato. Mas querido (a), se você tiver, leve todos os recursos fundamentais para a apresentação que são possíveis de substituição. Se você tiver projetor, leve. Se tiver computador (com o material a ser apresentado junto, obviamente), leve. Se tiver 15 pendrives (também com os materiais), leve. Isso porque existe um indivíduo chamado Murphy. Se for para dar algum “pau”, fique tranquilo, vai dar na hora da apresentação. Portanto, vá prevenido. Apesar do seu “seguro tecnológico” é válido ressaltar um ponto. A apresentação digital é um recurso valioso para a defesa, mas não é fundamental. Ou seja, não tem caráter essencial, determinante, indispensável ou outros sinônimos que remetem a que se não tiver ela, não rola apresentação. Se fosse assim, como eram defendidos trabalhos antes da invenção do projetor ou computador? Ou seja, no frigir dos ovos, a defesa vai rolar, com ou sem ela. E você deve estar preparado para isso. Portanto, encare a apresentação como um ponto de apoio ou, de forma análoga, a uma bengala. Se tirarem a bengala, você deve estar preparado para andar. Passos mais lentos, menos desenvoltos. Mas vai andar. Agora, se a bengala estiver lá (e provavelmente vai estar), além de andar você pode usar ela para se defender 😉 E existem golpes específicos para isso, como veremos no próximo tópico.

A bengala

Primeira coisa: número de slides. Você sabe quanto tempo vai ter para apresentar, não sabe? Pois é, então dimensione sua apresentação para respeitar o limite de tempo. E neste contexto existe uma lenda, a do “um slide por minuto”. Então, esquece. Isso porque determinados slides exigem um maior investimento de tempo para explicar e outros, pelo contrário, são simplesmente estruturais. Sabe aqueles que você coloca apenas para delimitar a apresentação, tipo: “1. Introdução, 2. Revisão Bibliográfica”, etc… Sim, são eles. A melhor forma de quantificar o número de slides é testando. Apresentações prévias são muito bem-vindas para exercitar e dimensionar o conteúdo a ser apresentado. Segunda coisa: conteúdo. Qual a utilidade de tirar o texto do Word e colocar no PowerPoint? O que você estará agregando a comissão julgadora escrevendo no slide o mesmo conteúdo que ela leu no papel? Nada. Mas calma, tem coisa pior do que transcrever os trechos, a leitura deles. Pensa comigo querido (a): se for você para fazer dessa forma para que precisam de você? Afinal, os membros da banca são alfabetizados e conseguiriam ler por conta própria o material. Portanto, procure elencar elementos que vão direcionar sua apresentação, funcionando como lembretes do que você tem que falar. Explore, se possível, recursos não permitidos na versão impressa, como vídeos, planilhas utilizadas no desenvolvimento e analogias que corroborem para a transmissão do conteúdo. O trabalho impresso, além de limitar a natureza dos recursos, é muito chato, cheio de formalidades, devendo seguir uma série de regras. Aproveite a apresentação oral para explicar de uma forma simples aquilo que você escreveu bonito no trabalho. Não sei se notaram, mas quando abordei recursos não mencionei animações. Isso porque estamos falando de um trabalho acadêmico e não de uma apresentação de ginástica artística. Os seus slides ou gráficos não precisam entrar dando pirueta na tela. Além do risco de dar pau ser maior (lembre-se do Murphy), a entrada parcelada dos elementos embaça a apresentação, deixando morosa a conclusão, além de criar uma expectativa em quem está assistindo (“será que acabou ou agora vem a Daiane dos Santos”?). É claro. Gosto é gosto. Mas tome cuidado. Menos é mais. Terceira coisa: comportamento. Falar em público não é tarefa fácil. E apesar das “trocentas” dicas disponíveis sobre o assunto, você só conseguirá melhorar de uma forma: praticando. Não tem jeito, o aperfeiçoamento só vem com exercício. Porém, se apresentações em público não fazem parte da sua rotina ou simplesmente você não está afim de desenvolver esta habilidade (o que é uma baita cagada, diga-se de passagem), e o evento “apresentação oral” é pontual, eu só tenho uma dica: mantenha a calma e seja você. É muito comum em apresentações sofrermos da “síndrome do meritíssimo”. Ou seja, a busca pelo ápice da formalidade, com uso de palavras bonitas e atitudes pomposas. Na prática, uma avenida para errar. Evidente que ter postura é importante, afinal não estamos no boteco. Mas não tente ser algo que você não é. Procure ser simples, direto e apresente o seu trabalho com tranquilidade. Afinal, não há melhor pessoa para apresentar o trabalho do que a que desenvolveu. Vai pra cima! Artigo escrito por João Rosa, professor dos MBAs USP/Esalq

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