Certas mudanças e adaptações são mais que necessárias. A digitalização e a transformação digital, por exemplo, são pautas de diversas discussões pelos seus impactos na sociedade e nas organizações.
Afinal, será que estamos, de fato, prontos para um mundo digital? Será que as empresas sabem utilizar todo o potencial da digitalização para superarem os desafios da mudança e se destacarem no mercado? Quais os principais conceitos da digitalização e como ela afeta as empresas?
Essas questões foram fundamentais para Yves Moyen, professor do MBA em Digital Business USP/Esalq, apresentar o assunto a partir do olhar de especialista. Confira!
Principais conceitos
Para início de conversa, é preciso entender que o progresso tecnológico passa por três principais etapas, sendo elas:
- Digitização: processo de transição do analógico para o digital.
- Digitalização: são as mudanças reais que acontecem dentro das organizações por meio da tecnologia. Falaremos mais especificamente sobre ela abaixo.
- Transformação digital: efeito da aplicação da digitalização nas organizações e na sociedade.
Dessa forma, a digitalização é a peça-chave do desenvolvimento tecnológico, já que é por meio dela que as organizações asseguram a permanência no mercado competitivo e aplicam técnicas e processos digitais em seu fluxo de trabalho. Na sociedade, o efeito é o mesmo.
Moyen explica que a adequação de produtos digitais tomou o lugar dos produtos materiais, palpáveis, e acelerou a expansão da tecnologia nos dando acesso integral ao conteúdo.
“A desmaterialização inverteu a lógica econômica e acelerou a expansão de produtos e serviços exponencialmente (como os streamings de música e vídeo). A desmonetização destronou mercados dominados por bens consumidos por poucos (por exemplo, o preço de decodificação de genoma caiu de US$100 mil para centenas de dólares). As plataformas móveis digitais criaram ubiquidade e hoje podemos consumir serviços e produtos em qualquer lugar, a qualquer hora”, exemplifica o professor.
Desafios da digitalização
Segundo a Forbes, há uma previsão de que, já em 2022, 60% da população mundial será usuária da rede mundial de computadores, o que assegura que estaremos cada vez mais conectados e ligados por meio dos dados gerados e das tecnologias que os analisam.
“Os algoritmos em nuvem, turbinados por inteligência artificial e a Internet da Coisas, tornaram a captura e mineração de dados algo viável e factível em escala exponencial para tornar empresas e a sociedade mais conectadas, mais dinâmicas e mais inteligentes”, comenta Moyen.
Agora, contextualizados, fica a questão: como as empresas devem lidar com essa transformação digital iminente? O professor comenta sobre os desafios empresariais que surgem junto com a era digital e suas consequências.
“O principal desafio empresarial passa a ser reduzir o descompasso entre o crescimento exponencial na adoção das tecnologias emergentes e o potencial das organizações para transformar seu modelo mental, sua gestão e habilidades na velocidade e intensidade necessárias. Várias questões críticas emergem na era digital, entre elas, o futuro do trabalho e da empregabilidade com o crescimento da automação e robotização, a necessidade de uma nova ética para lidar com as rupturas de modelos e sistemas sociais/econômicos, a segurança e confidencialidade de dados, o surgimento de grandes oligopólios de empresas tech e seus padrões e plataformas dominantes.”
“A era digital está exigindo uma nova liderança empresarial e na sociedade que possa enfrentar os desafios e oportunidades com uma nova ótica que equilibre propósito, tecnologia, inclusão e um novo capitalismo”, completa.
O processo de digitalização nas empresas
Para as organizações, tornar-se parte do mundo digital é mais que uma escolha, é um requisito para acompanharem o desenvolvimento do mercado. Contudo, o processo não é simples.
“As empresas estão em estágios distintos de maturidade digital e, portanto, cada processo de transformação digital deve ser desenhado para assegurar o maior retorno sobre o investimento em digital, a maior produtividade organizacional e o maior impacto nos negócios”, destaca Moyen.
Ele aponta como um primeiro passo a definição do papel do digital nos negócios e na ambição das organizações pela transformação e desenvolvimento. “É importante ter lideranças comprometidas com a transformação e um TMO (Transformation Management Officer) pode ser bem útil.”
O segundo passo diz respeito à definição das iniciativas prioritárias para o investimento em digital. “A busca por eficiência e produtividade é, via de regra, a primeira parada, e a digitalização de processos manuais repetitivos cumpre o objetivo de otimização de custos e maior agilidade, em processos contábeis, fiscais, logísticos e back-office, por exemplo.”
Com esses dois passos estabelecidos, as empresas devem acelerar ao máximo o processo de digitalização e, consequentemente, a transformação digital. Para não ficarem para trás, as empresas devem adotar algumas estratégias específicas.
“O marketing digital, a experiência do cliente/consumidor (IX e UX), a criação de plataformas digitais, de ecossistemas digitais com parceiros que aportem ativos digitais, conhecimento e habilidades e a conexão com startups disruptivas são alguns exemplos de que a jornada de transformação é longa, árdua, contínua e exigirá muito dos líderes e colaboradores”, afirma.
Como a digitalização transforma
O professor também falou sobre os paradigmas impostos pelas tecnologias digitais às empresas e sociedade e a maneira como a era digital permitiu o florescimento de negócios e modelos antes inimagináveis, viabilizados com o efeito de rede da conectividade e com a democratização do acesso à tecnologia.
“A verdade é que o digital fez mais em vinte anos para a inclusão de consumo e cidadania do que séculos de economia tradicional. 67% da população global possui ao menos uma linha móvel. Em apenas dez anos, 50% da África subsaariana conseguiu alcançar conectividade móvel 4G, trazendo melhoria de qualidade de vida, apoio a microempreendedores e a atuação de ONGs. Monopólios de mobilidade urbana ruíram em apenas cinco anos e plataformas digitais empoderaram consumidores e adicionaram transparência ao uso e ao pagamento de serviços. O dinheiro tornou-se digital e o celular, QR codes e reconhecimento facial substituíram o papel moeda.”
O mundo digital passou de uma realidade futura para uma necessidade do presente. “O consumo torna-se cada vez mais digital e móvel, as compras pelo celular, mobile commerce, já alcançaram 55% do comércio eletrônico no Brasil. Além disso, a educação e o acesso ao conhecimento expandiram-se dramaticamente com conteúdos gratuitos em plataformas de e-learning.”
Cabe, então, às empresas a utilização dessa transformação digital em prol do desenvolvimento e disseminação de uma nova visão estratégica, que considera a tecnologia como algo intrínseco à inovação.
“É importante que as empresas explorem as oportunidades de aumentar a agilidade e a inteligência organizacional. Para isso, é necessário abandonar paradigmas pós-industriais de planejamento e controle, de estruturas verticalizadas e de silagem funcional. Organizações necessitam deixar de ser mecanicistas e herméticas e passar a atuar como sistemas abertos e fluídos. É preciso atrair e desenvolver talentos que possam competir e prosperar em um ambiente digital, e construir times que adotem formas de trabalho ágeis, com uso de tecnologias digitais para inovar mais rapidamente”, aconselha Moyen.
“O alcance de tecnologias digitais só cresce e isso mudou radicalmente a forma como trabalhamos, aprendemos e vivemos. Na era digital, o desafio passou a ser ’transformar e reinventar’ para não ser transformado”, conclui.
Esse é apenas um dos temas abordados no MBA em Digital Business USP/Esalq. Quer aprender mais sobre esse e outros assuntos? Realize sua inscrição!