Ufa! Estamos chegando no fim de 2020, um ano bastante desafiador para muita gente. Com a chegada do ano novo e a perspectiva de um futuro incerto, será que é o momento de criar expectativas, realinhar projetos e definir metas? Essas práticas, muito tradicionais em todo fim de ano, podem ficar esquecidas após o que vivemos nos últimos meses.
Pensando nisso, preparamos um conteúdo mais do que especial para te manter determinado e firme no seu propósito de vida. Afinal, nosso propósito não muda necessariamente por conta de uma pandemia ou qualquer outro obstáculo.
“Ele é uma intenção para o nosso futuro, que se baseia em quem somos e o que queremos construir no mundo”, define Carol Shinoda, professora dos MBAs USP/Esalq e membro da coordenação do MBA em Gestão de Projetos USP/Esalq.
E, como todo conteúdo que você acompanha aqui no Next, essa matéria está com muita informação e referências teóricas. Por isso, optamos por dividi-la em duas partes. A segunda parte você confere na próxima semana. Vamos lá?
É a hora certa?
Considerando os desafios que superamos em 2020 e da instabilidade e insegurança a respeito do próximo ano, será que é hora de se planejar tendo como base um futuro incerto?
Quem responde essa pergunta é Denise de Moura, também professora dos MBAs USP/Esalq. “Se não foi possível dar continuidade a um planejamento por conta das mudanças bruscas que tivemos, agora, mais do que nunca, é hora de nos planejarmos no curto prazo.”
Momento profissional
Neste momento, os profissionais que estão empregados precisam entender para onde a empresa está caminhando e quais adaptações de trabalho permanecerão (como o home office), além de realizarem uma autoavaliação sobre o seu preparo para começar o novo ano nas condições estipuladas pela organização.
Quem perdeu o emprego por conta da pandemia deve analisar se suas funções continuam relevantes em um mercado pós-quarentena. Se não, o começo do ano é um bom momento para refletir sobre quais competências precisarão ser aprimoradas e quais outras funções ou atividades despertam interesse.
“Vale pensar em atividades que tenham afinidade com suas características e que serão um diferencial nesse futuro incerto”, incentiva Denise.
Já as empresas, mais do que nunca, precisam ficar de olho nas novas demandas de clientes e parceiros, além de questionarem a relevância e o diferencial de seus processos ou produtos depois da pandemia. “O que fazia sentido há alguns meses pode não ter mais validade daqui para frente.”
As empresas que optarem pelo trabalho remoto também precisam ficar atentas aos colaboradores, se eles estão adaptados, com local de trabalho adequado para produção, e se têm condições de usufruírem de uma internet de qualidade. “Novos procedimentos de trabalhos precisarão ser pensados, assim como os benefícios precisarão ser revistos”, comenta a professora.
“O mais importante será cuidar da saúde e da sua rede de apoio. Muitas pessoas perderam entes queridos e precisamos de mais empatia e solidariedade para fazer a diferença”, diz.
Retrospectiva
Começar a planejar o próximo ano, mesmo se tratando de um futuro incerto, depende de olharmos daqui para trás, extraindo os aprendizados. “Essa atividade é muito particular. Para mim, precisei de flexibilidade para ajustar prazos e formatos e vi outras oportunidades surgirem e transformarem a ideia inicial em algo ainda mais legal”, relata Carol.
A professora explica que a pandemia limitou e dificultou muitos planos, mas também abriu novas possibilidades, como os eventos online, que alcançaram outras pessoas, lugares e momentos. “A limitação nos faz usar nossa criatividade e explorar coisas que, dentro daqueles parâmetros que conhecíamos, não conseguiríamos.”
Para Denise, 2020 foi um ano de muito aprendizado. “Muitas pessoas não sabiam que tinham tanta força e competências, adormecidas ou enferrujadas. De forma muito rápida, precisamos desenvolver flexibilidade, resiliência e tolerância. Assim, lidar com frustrações foi algo que praticamente todo mundo precisou fazer.”
Ela lembra de empresas que fecharam suas portas, profissionais que perderam empregos e planos que não saíram (e alguns não sairão mais) do papel. O sentimento de impotência foi comum, mas a boa notícia é que podemos olhar para o que podemos construir com as competências adquiridas em vez de focarmos nas metas e expectativas que não deram certo.
Projetos
Como dissemos anteriormente, nosso propósito de vida não deveria mudar diante de qualquer obstáculo. O que podemos fazer, segundo Carol, é ajustar os projetos, a forma e o ritmo em direção a esse propósito. Mas como podemos nos preparar para isso? Observando os aprendizados adquiridos e as competências desenvolvidas e considerando o futuro incerto dos próximos meses.
As professoras também reforçam a necessidade de metas realistas. “Quando falamos em metas, em uma pandemia ou não, precisamos sempre olhar para o que está em nosso controle. É importante ter consciência dos obstáculos e limitações”, explica Carol.
Ela exemplifica com o planejamento de uma viagem de avião, que pode conflitar com valores de segurança e saúde. Assim, pode ser necessário ajustar esse plano: ele pode ser adiado ou é possível realizar uma viagem para um lugar mais próximo. “Podemos continuar sonhando com planos que não estão em nosso alcance, mas reconhecendo aquilo que podemos influenciar e entendendo que não podemos garantir 100%.”
Carol enfatiza que só podemos garantir a nossa parte, que engloba nossa determinação, nossa força de vontade e nossa rede de influências, por exemplo. E sempre com a ideia de que toda meta tem um limite, seja ele uma pandemia ou não.
Para fazer sua lista de metas de fim de ano em um futuro incerto, Denise dá algumas dicas:
- Defina ações que você precisa desenvolver logo no início do ano (nos primeiros três meses)
- Defina ações que você pode desenvolver até junho
- Defina ações que podem ser completadas até dezembro
- Acompanhe cada uma delas e, se perceber que está procrastinando alguma tarefa, não inicie outra antes de finalizá-la
“Finalizar uma meta gera grande motivação e impulso para a próxima, especialmente diante de um futuro incerto”, enfatiza Denise.
Antifrágil
Para finalizar essa primeira parte da matéria, Carol fala sobre o conceito de antifrágil, proposto por Nassim Nicholas Taleb. O autor observou o comportamento humano com relação aos mercados financeiros.
“Sempre falamos muito em resiliência, que é a capacidade dos metais e outros materiais voltarem à sua forma original depois de um impacto. Isso é transposto para o ser humano que retoma o equilíbrio mesmo depois de ser derrubado por uma patada da vida”, conceitua. Mas o antifrágil é um conceito que vai além. A ideia é usar as pancadas da vida como forma de crescimento e criatividade, para desenvolver novas alternativas.
“Não podemos ignorar a dor de determinadas situações, mas podemos encarar que isso faz parte da vida e escolher a atitude que teremos diante daquilo. Neste momento, o ideal é ter essa convicção de que o mundo não é perfeito, que se adaptar faz parte, assim como buscar conexões que podem nos complementar em termos de ideias, comportamentos e competências e, nas horas difíceis, nos ajudar a superar uma dificuldade e transformar isso em coisas boas.”
Ser antifrágil é uma competência do profissional do mundo de hoje, não só pela pandemia, mas pelo mundo VUCA e de futuro incerto em que vivemos. Quer saber mais? Então confira a segunda parte dessa matéria clicando aqui!