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3 orientações para falar em público de um cara que já foi muito ruim em falar em público

“Eu ainda não sei o que quero fazer. Mas sei o que não quero fazer. Eu nunca serei professor”. Essa era minha resposta quando questionado sobre minhas ambições profissionais, nas mais diferentes fases da vida em que a pergunta “o que você quer ser quando crescer?” e suas derivações apareciam.

A razão para a resposta era simples: eu tinha pavor de falar em público. Um bicho papão a ponto de não querer nem fazer uma auto apresentação simples em uma reunião. Pois bem, cá estou. Parte de minhas atividades atuais envolvem comunicação com o público, com recorrência de aulas, palestras e, vejam só, exposição na frente das câmeras, algo simplesmente inimaginável anos atrás.

Estou longe de ser o melhor, mas já evolui muito. Neste artigo, coloco três aspectos que foram fundamentais para meu desenvolvimento e que, se permitem, ficam de orientação:

Conquiste a autoconfiança

Parece papinho de autoajuda, mas é verdade. Pense bem, se nem você bota fé no seu taco, quiçá seus espectadores. E essa insegurança que atrapalha tudo não é dada exatamente pela aversão ao palco. Na verdade, o nosso medo é do julgamento. Temos pavor do estado réu. E sim, quando você está lá na frente, você está sendo julgado.

E o julgamento vai muito além da sua palestra. O seu material, o seu jeito de falar, o seu léxico, suas roupas, enfim, tudo está em pauta. E você sabe disso, porque quando está na posição de plateia, também o faz. Todos fazemos. Julgar, ser expectador, ser banca, ser comentarista, é a coisa mais confortável que tem. Sendo assim, ser um “cagão” no começo é natural.

Domine sua reação à adrenalina

Todos temos uma forma de reagir ao nervosismo. Tem gente que treme. Tem gente que gagueja. Tem gente que “dá branco”. Tem gente que intensifica o “ãhn… éhh…”. Enfim, cada louco com sua loucura.

No meu caso, eu transpiro em excesso, ou suo que nem um porco, como gosto de dizer. E o desafio não é identificar a reação, mas sim mitigar sua retroalimentação. É um círculo vicioso do mal, afinal, quando vejo que começo a suar, fico encanado, suo ainda mais, atrapalha meu foco e palestra começa a desandar. Bom, quais as minhas técnicas para tentar suavizar isso:

I) vou sempre com uma camiseta por baixo da camisa, para esconder as pizzas do sovaco e gerar uma auto informação inconsciente de que as pessoas não estão vendo que estou molhando a camisa;

II) peço para diminuir a temperatura do ambiente, o que nem sempre é possível, já que plateia julgadora está confortável e sente frio e;

III) faço piada com o meu suadô, chegando às vezes até a levar uma toalhinha junto. Esta talvez seja a estratégia mais interessante. Ao fazer chacota com minha própria fraqueza, eu meio que peço uma benção ao julgamento do meu ponto fraco, o que ajuda a suavizar a situação e me deixar mais calmo. Claro, isso não é uma receita de bolo. Funciona pra mim. É pessoal. O seu desafio, como dito, é encontrar a sua reação e mitigá-la.

Não tente ser quem você não é

Quando começamos a fazer qualquer coisa na vida e não temos experiência, a tendência é buscar inspiração e técnicas em quem já faz isso. Nessa linha de raciocínio, qual é a figura que vem a sua cabeça quando falar em público é a pauta? O professor. E quando imaginamos um professor clássico, vem à mente formalidade, conduta, vocabulário rebuscado e qualquer palavra relacionada a etiqueta.

Aí é que entra você, meu querido leitor filhote de rato, que nunca falou ou tem pouca experiência em falar público. Que está com a primeira orientação lá embaixo. Que não consegue nem se apresentar para a mãe direito. Qual a sua tendência? Evidente que é tentar ficar todo bonitinho. Falar todo certinho, no que chamo da síndrome do meritíssimo. Sabe, tentar ser quem você não é.

Na prática, uma avenida para desencadear a segunda orientação, que otimiza a primeira e a desgraça está feita. O ciclo do mal foi estabelecido e sim, sua palestra ficou uma bosta (e por mais que o politicamente correto me taxe quanto a utilização do termo, essa é a palavra que resume sua sensação). Eu fazia isso no começo. E pra você que me conhece ou já viu algum material meu, percebe que não é muito meu perfil.

A partir do momento que comecei a ser mais eu, a não me importar que falo meio arrastado – afinal, sou piracicabano -, a soltar algumas brincadeirinhas na palestra, a não me importar tanto se saiu um erro aqui ou acolá, as coisas começaram a fluir melhor. Cabe ressaltar que não estou falando para você fazer isso. Minha sugestão é para você ser você. E, evidente, existem níveis de você. Não é para se comportar no palco como em churrasco. Seja o seu natural respeitando o contexto.

Concluindo…

Hoje eu falo bem melhor em público do que quando comecei. Chego até a receber alguns elogios, tipo: “nossa como você fala bem. Tem o dom da palavra”. Na frente da pessoa eu sorrio e agradeço. Por dentro eu xingo. De brincadeira, afinal é um elogio, mas eu xingo. Isso porque a pessoa não sabe dos perrengues que passei. Da quantidade de palestras ruins que já fiz. Na quantidade de suor (no meu caso, literalmente) que derramei. Dom não existe. O que existe são habilidades que são desenvolvidas. Características que são aprimoradas. Evidente que algumas pessoas têm determinadas propensões, mas que se não forem desenvolvidas, continuarão dormentes.

Portanto, “falar em público” é, sobretudo, um desenvolvimento de habilidade. Sendo assim, sua primeira palestra será uma bosta. A segunda também. A terceira também. Várias serão. E, na verdade, não tem um ponto de virada padrão, onde começa a ficar bom. Cada um tem o seu tempo. O importante é você não desistir (de novo, parece papinho de autoajuda, mas é verdade). O pensamento tem que ser: pior do que aquela não vai ser. Criar a casca na ferida das críticas faz parte do processo.

Falar para outras pessoas e, se possível, da melhor forma, é importante e pode ser crucial para o seu sucesso. Tem que botar ovo como a galinha, e não como o pato. A situação às vezes exige barulho. E ninguém melhor que você para falar do seu trabalho. Às vezes, este está sendo seu limitante (Como as 3 leis gerais da adubação limitam seu crescimento profissional).

João Rosa (Botão) é professor do Pecege e idealizador do canal do Youtube Botão do Excel.

Autor (a)

Ana Rízia Caldeira
Ana Rízia Caldeira
Boa ouvinte, aprecio demais os momentos em que posso ver o mundo e conhecer as coisas pelas palavras das outras pessoas. Não por menos, entrei para o jornalismo. E além de trazer conteúdos para o Next, utilizo minhas habilidades de apuração e escuta para flertar com a mini carreira de apresentadora nos stories do MBA USP/Esalq, no quadro Você no Camarim.

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