Falar de mulheres e liderança na mesma frase forma uma combinação natural hoje em dia, mas nem sempre isso foi realidade. Antigamente, ver pessoas do gênero feminino em altos cargos ou como gestoras de equipe era raro.
Por muito tempo, as mulheres foram impedidas de trabalhar, principalmente se tratando das altas classes sociais. O trabalho para o grupo era associado a famílias pobres. Depois, quando os maridos permitiam, todas puderam se inserir no mercado de trabalho, mas sempre em cargos baixos, operacionais.
Parece até um sonho feminino ver mais mulheres na liderança de grandes empresas, mas hoje isso é uma realidade mais comum. “A igualdade formal de direitos entre homens e mulheres contribuiu para que elas se inserissem no mercado de trabalho”, afirma Denise de Moura, professora do MBA USP/Esalq em Gestão de Negócios e especialista em gestão de pessoas e liderança.
De acordo com a professora, a igualdade, porém, ainda não é uma realidade plena. “No que diz respeito a salários e cargos de liderança, o processo ainda está muito longe do ideal. No entanto, tivemos avanços significativos em muitos casos por parte das próprias organizações”, completa.
Pequenos passos
Embora essa evolução seja evidente, em especial se feito um comparativo com algumas décadas atrás, ainda é longe do ideal. “Se falarmos em números, eles não parecem tão favoráveis”, lamenta Denise.
Segundo uma pesquisa feita em 2016 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres trabalham até três horas por semana a mais que os homens, mas ganham apenas 76,5% do salário deles.
Essa mesma pesquisa mostra que apenas 39,1% dos cargos gerenciais eram ocupados por mulheres até 2016. “O que é um avanço se compararmos com décadas atrás, mas este percentual está muito baixo, sobretudo em virtude do nível de escolaridade das mulheres”, afirma.
O IBGE apontou que na faixa dos 25 a 44 anos, 21,5% das mulheres tinham graduação completa e, no caso dos homens, apenas 15,6%. No universo acadêmico, a realidade é mais balanceada. Segundo uma pesquisa da Elsevier (2017), metade dos artigos científicos brasileiros é escrito por mulheres.
“É claro que esses dados, em hipótese alguma, buscam colocar homens contra mulheres, mas servem de alerta de que precisamos melhorar muito no que tange a cargos de liderança ocupados pelo sexo feminino”, opina a professora.
Duas vezes competente
Assistir mulheres chegando a cargos de liderança, principalmente para as que viveram a época em que sequer podiam opinar na mesa de jantar, é uma satisfação. No entanto, muitas vezes chegar ao topo é mais difícil para elas do que seria para homens.
“As muitas líderes que conheço e que atuam como diretora, gestora, coordenadora mencionam que, mesmo tendo chegado ‘lá’, em diversos momentos precisaram provar mais do que os homens o porquê estão naquele cargo”, diz Denise.
E, mesmo se provando duplamente, muitas sofreram algum tipo de preconceito relacionado ao gênero e ao cargo que ocupam dentro da própria empresa.
Disparidade de salários?
Quanto ao polêmico assunto de salários desiguais entre os gêneros, a professora diz que nem sempre há essa diferença, mas é um assunto complexo. “Uma empresa não diz para uma candidata ao cargo que ela vai ganhar menos. Até porque esta empresa não sobreviveria a médio e longo prazo”, explica.
Segundo Denise, o plano de cargos e salários busca evitar essa disparidade não apenas entre homens e mulheres, mas entre cargos. “O foco principal diz respeito aos comportamentos, crenças e normas não escritas que ocorrem dentro da organização após a contratação”, declara.
A professora explicou que essas normas não escritas são sobre a suposta meritocracia das promoções internas, ou sobre outros processos internos. A discriminação de gênero vai além do salário e diz muito sobre de que forma a organização trabalha outras questões.
“Estão focando na competência da pessoa ou apenas no gênero? As mulheres, quando no cargo de liderança, são respeitadas e ouvidas como os homens são? A gravidez de uma mulher é respeitada ou ela precisa escutar piadinhas no corredor sobre isso?”, questiona.
O suposto diferencial
Muito se fala em mulheres serem líderes mais humanas, porém essa não é uma afirmação que condiz com a realidade, segundo Denise. “Acredito que seja mais um mito do senso comum”, diz.
Um líder na verdade deve dar reconhecimento aos membros da equipe pelo trabalho, feedbacks regulares, justiça e transparência nas promoções, de acordo com a professora. “Tanto um homem como uma mulher em cargo gerencial devem proporcionar estes pontos a sua equipe.”
No entanto, essa visão de que mulheres são mais humanas vem do fato de que em muitos dos casos, para chegar ao cargo de liderança, elas precisam provar muito mais do que a competência. “Assim, em muitos momentos, elas tendem a ser mais cuidadosas, persistentes, buscam o seu aprimoramento continuamente”, explica.
“Muito mais do que o gênero, a competência, a experiência e até mesmo a vontade genuína de se tornar líder, fazendo a diferença na vida das pessoas, devem ser os decisores deste processo”, finaliza.
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