No Brasil, assim como em outros tantos países, as pessoas têm se deparado com altos níveis de transtornos mentais, como depressão e ansiedade. Mas a origem dessas doenças estão cada vez mais ligada ao modo como trabalhamos do que a qualquer outra coisa.
Se o seu estilo de vida é baseado na correria, abraçar inúmeros projetos e trabalhar mais para render mais, então é bem provável que você também desenvolva alguma doença de origem psicológica. “Com muitas metas de trabalho a serem cumpridas, cargas horárias extensas, acabamos nos esquecemos de nossa saúde mental”, relata Caroline Peixe Munhoz, psicóloga especializada em terapia cognitivo comportamental e orientação profissional.
Segundo ela, essas reações são causas dos mais diversos afastamentos no mercado de trabalho. A partir de um quadro de desequilíbrio psicológico, muitas empresas preferem reduzir a jornada de trabalho para que o funcionário possa começar a cuidar de si.
Poucas exceções à regra
Ainda assim, é mais comum ver que longas jornadas de trabalho e acúmulo de funções, com mais trabalhos voltados a uma única pessoa, são quase uma unanimidade quando se fala em produtividade.
“Como as coisas acontecem de forma muito rápida, os serviços são requisitados para o agora. Isso leva a mais cobranças da pessoa para conseguir entregar seu trabalho no prazo correto. Então é comum ver funcionários que se sentem inúteis. A ansiedade vai aparecendo por conta das exigências”, observa Caroline.
A depressão também é um dos transtornos mentais mais aparentes, mas junto a ela podem aparecer ainda as doenças psicossomáticas, em que as emoções refletem sintomas físicos e afetam o pleno funcionamento do corpo, como nos casos de gastrite, enxaqueca, diabete e até fibromialgia.
Há casos, inclusive, em que o indivíduo desenvolver fixações e “manias”, que vão desde comer demais – ou deixar de comer -, excesso de limpeza, organização exagerada ou perseguição ao próprio comportamento.
“Tem episódios em que a pessoa acredita que se não for perfeita no trabalho, qualquer pequeno deslize vai prejudicar sua permanência nele. Na cabeça dela, é possível que isso leve a prejuízos no futuro, gerando uma culpa interna e ansiedade por algo que é uma fantasia”, comenta a psicóloga.
Trabalhe muito, renda bem menos
Uma jornada de trabalho longa e carregada gera efeitos negativos sobre o sono e memória. Além disso, emoções negativas, fadiga e esgotamento, tanto físico quanto mental, atrasam o rendimento pessoal. A ideia de trabalhar muito já não é mais uma receita de sucesso.
Em uma análise mais sensata, o próprio ato de procrastinar está ligado ao trabalho pesado. Isso vem de uma explicação simples: tantas cobranças somadas a prazos específicos só vão gerar medo. “O medo acaba impedindo a gente de fazer algumas coisas, desde grandes tarefas até o mais fácil trabalho”, relaciona Caroline.
Para que a procrastinação não ocorra, ela lembra que é importante o funcionário focar nas responsabilidades do seu cargo. “No consultório oriento aos pacientes a criarem uma rotina assim que iniciam o dia de trabalho, com a qual seja mais fácil lidar com horários, prazos e importância das atividades ao logo do dia.”
Acompanhando o bom rendimento, o conselho é sempre separar um tempo para descanso, nem que seja aqueles instantes de caminhada até o banheiro. “Muitas vezes a posição na empresa não possibilita tirar aqueles 15 minutos de repouso, então tentar relaxar por um tempinho é importante”, ressalta a psicóloga.
Em empresas com trabalhadores que precisam cumprir jornadas aos finais de semana, o conselho de Caroline é ainda mais enfático. “Sempre aconselho a chegar em casa e se desligar, tentar fazer algo que seja agradável para o relaxamento, nem que seja sair coma família ou até mesmo dormir, para estar descansado no dia seguinte”, completa.
Não recuse ajuda
O tempo de achar que tratamento psicológico (ou terapia, análise, etc) era “coisa de louco” acabou. Hoje, até mesmo pessoas com que se sentem saudáveis e relativamente felizes podem e devem fazer acompanhamento com um profissional da área.
Para os resistentes quanto a buscar apoio terapêutico, Caroline explica que existem sinais que ajudam a identificar o desgaste causado pelo trabalho. “Após o trabalhador conviver com o excesso de demanda sobre suas tarefas diárias, pouco apoio, recompensas inadequadas e comprometimento excessivo, surge um sentimento de não cumprimento das coisas.”
Segundo ela, o pensamento de perfeição e a dificuldade em se desligar dos serviços levam ao fenômeno chamado de Síndrome de Burnout. O distúrbio, que em inglês significa literalmente “queimar até o fim”, é associado a vida profissional na qual surge um esgotamento físico e mental
“A partir do momento em que o trabalhador não consegue administrar seu sofrimento e pensamentos negativos referentes ao trabalho, é necessário que procure o auxílio de um profissional da psicologia”, completa.
Ela afirma que é possível sim se cuidar sozinho, mas a ajuda sempre será importante para identificar limites e o que realmente acontece na vida do paciente. “Por isso é importante a presença de psicólogos nas empresas, uma vez que eles podem indicar tratamentos fora do corporativo.”
Por fim, ela sugere algumas técnicas de relaxamento e meditação, que podem ser realizadas durante o dia, até mesmo em reuniões ou execução de projetos. “Também indico que ao finalizar a jornada diária de trabalho, as pessoas encontrem um momento para dedicar à saúde mental, sendo desde uma caminhada, uma atividade prazerosa e até mesmo a psicoterapia”, informa.
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