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De que forma a procrastinação está ligada ao nosso comportamento?

Boa parte das pessoas, ao menos uma vez (ou duas, três, quem sabe?) na semana, deixa de lado algumas tarefas importantes para se dedicar a tarefas mais “vantajosas”. Da procrastinação, o famoso “empurrar com a barriga”, quase ninguém escapa. Mas existem casos em que este comportamento se torna um imenso peso na rotina.

Resumidamente, o ato de procrastinar – que pode virar hábito – significa deixar de fazer o que é necessário ser feito. “Muitas coisas importantes são colocadas de lado, como projetos, estudos para uma prova, pesquisas mais detalhadas para o TCC, etc, por serem consideradas mais difíceis ou trabalhosas”, esclarece Fátima Jinnyat, professora do MBA USP/Esalq em Marketing e especialista em neurociência. Em outros casos, tarefas mais comuns entram na lista de não feitas ou adiadas.

Segundo Fátima, procrastinar vem da questão da falta de ânimo ou motivação para se dedicar a uma rotina. “Tudo é deixado para depois. Achamos que em outro momento poderemos fazer. Até que os afazeres vão se acumulando e aí perdemos o controle. Por fim, vira uma montanha de tarefas, muitas vezes começadas, mas não concluídas”, comenta.

Nossos hábitos têm muito a dizer

Pessoas que procrastinam, ou que têm frequente esse mau hábito, geralmente apresentam outros correlacionados. A professora indica que, profissionalmente, a prática compromete a reputação. “Imagine trabalhar em parceria com alguém que procrastina. Esse indivíduo sempre estará em dívida com os outros, fazendo entregas de última hora, incompletas ou sem qualidade. Ele será cobrado pelo que não faz.”

Em consequência, haverá também a falta de confiança vinda de outras pessoas, afetando os relacionamentos. Como exemplo, no comando de um procrastinador, tarefas que antecedem um descanso ou diversão, como compras de passagens e reserva de hospedagens para uma viagem, podem ser deixadas para última hora, comprometendo o sucesso dos planos.

“Na maioria das vezes, alguém que procrastina e que tem isso como hábito acaba não sendo confiável, nem para se ter como amigo. Se profissionalmente é um defeito comprometedor, socialmente não é diferente”, declara Fátima.

Um mal para todas as gerações

Comumente relacionada com falta de responsabilidade, a procrastinação não deve ser o estereótipo de uma geração específica, como a juventude. Na mesma medida em que existem jovens responsáveis, alguns indivíduos de gerações anteriores podem ir pela via contrária.

“Acredito que o fato, muitas vezes, pode estar relacionado com pessoas que estão à deriva, ou seja, elas não têm motivação e nem propósito de vida e carreira. Estão descontentes com o contexto em que vivem e não têm ânimo para se dedicar a coisa alguma”, observa a professora.

Outro aspecto a ser analisado é a dificuldade em priorizar o que é urgente do que é importante. Em meio a rotinas caóticas, tudo pode se tornar urgente. “A vontade é fazer tudo o que puder ao mesmo tempo. Algumas coisas não poderão ser feitas e outras sairão sem qualidade. No fim, patinamos em meio a entregas”, explica.

Processos acelerados estão ligados com o modelo de vida criados pela sociedade atual. Segundo Fátima, a pressa e pressão por resultados geram cargas de estresse e não nos ensinam a traçar limites. “Vamos abraçando tudo e aceitando o que nos é imposto sem saber se na verdade estamos dispostos a lidar com tudo isso”. Ao procrastinar, estamos apenas reagindo da melhor forma ao que poderia ser evitado com um “não” justificado. “Acreditamos erroneamente que impor limites pode parecer má vontade.”

Muito além do comportamento

Pela falta de comprometimento com entregas ou execução de tarefas, a procrastinação pode revelar um estado depressivo, uma visão melancólica da vida. “Quando reconhecemos que a vida não está fácil, essa atitude pode ser uma fuga ou um sinal de alerta.”

Quando ligada a razões patológicas e comportamentais, a procrastinação deve ser corrigida à medida em que a pessoa a reconheça como um mal. Para Fátima, isso é importante dentro de um momento conturbado, em que ter responsabilidade é uma exigência.

“No caso de crianças e adolescentes, não devemos encarar a procrastinação de maneira tão severa. Nessa idade eles ainda estão aprendendo o que pertence a seu âmbito e como suas atitudes interferem na rotina dos outros”, relaciona. “Ao longo da vida, a consciência do coletivo, quando desenvolvida, dificilmente leva à procrastinação. Reconhecemos o impacto de nossos atos sobre o próximo”, completa.

Como “desapegar”

Mesmo que pareça uma cilada criada por nós mesmos, é possível atenuar ou evitar a procrastinação. O primeiro passo é tomar consciência dela e prestar atenção ao que nos rodeia. As pessoas reclamam de você sempre pelos mesmos motivos? Então, de fato, seja preciso mudar.

A professora inclui ainda um segundo passo, que é identificar a razão pela qual deixamos a tarefa para depois. “Como falei, ao querer abraçar o mundo de uma vez só, é óbvio que alguma coisa será deixada para trás. Geralmente essas coisas envolvem outras pessoas ou questões importantes”, informa.

O problema não é querer fazer de tudo, mas sim fazer tudo em uma única vez. “Isso inclui, por exemplo, aceitar todos os convites e depois perceber que é impossível estar em todos os lugares. Fica difícil administrar tanta coisa em um dia que só tem 24 horas”, acrescenta.

Para ajudar, ela indica algumas perguntas que devem ser feitas para nós mesmos e que ajudam a gerenciar o tempo. Com elas, é possível dar um tom profundo a muitos sentimentos que influenciam a procrastinação:

  • Como ando me sentindo?
  • Costumo fazer planos ou projetos para minha vida?
  • Acordo animado ou desanimado?
  • Quando tenho que tomar uma decisão, levo em conta o que sinto? Ou prefiro agradar aos outros?
  • Estou vivendo como planejei?
  • Escolhi esse trabalho?
  • Escolhi essa situação?

Análise faz a diferença

Fátima alerta que, às vezes, o descontentamento em um âmbito da vida afeta a todos os outros, inclusive profissionalmente. Uma análise profunda, com ajuda terapêutica, se necessária, pode contribuir para encontrar a solução a problemas que aparentam ser insolúveis.

Por fim, ela indica que é preciso disciplina para mudar um comportamento que virou hábito, mesmo que leve tempo para mudar. “Não há milagre, nem truque. Reprogramar um comportamento leva tempo e dedicação”, ressalta. Na medida em que o hábito foi repetido, ele construiu um padrão, que dependendo do tempo de repetição pode se tornar muito forte.

“Muitas vezes a procrastinação faz parte da cultura familiar e só foi percebida como problema a partir da interação com grupos maiores. Transformar um padrão exige vontade genuína e muita disciplina”, conclui.

Gostou? Deixe nos comentários quais medidas você adota para não procrastinar 😉

Autor (a)

Ana Rízia Caldeira
Ana Rízia Caldeira
Boa ouvinte, aprecio demais os momentos em que posso ver o mundo e conhecer as coisas pelas palavras das outras pessoas. Não por menos, entrei para o jornalismo. E além de trazer conteúdos para o Next, utilizo minhas habilidades de apuração e escuta para flertar com a mini carreira de apresentadora nos stories do MBA USP/Esalq, no quadro Você no Camarim.

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