Com as diversas tendĆŖncias mercadolĆ³gicas que se solidificam com o tempo, fica aos especialistas o desafio de entender o mercado atual e estabelecer uma estratĆ©gia eficaz de desenvolvimento. Para isso, a administraĆ§Ć£o de sortimentos Ć© o caminho.
Para aprofundarmos um pouco mais sobre o tema, realizamos um bate-papo com JoĆ£o Carlos Lazzarini, professor dos MBAs USP Esalq, que iniciou a conversa apresentando diferentes abordagens utilizadas na administraĆ§Ć£o de sortimentos.
āDo ponto de vista dos fabricantes, por exemplo, os sortimentos podem ser chamados de mix ou portfĆ³lio de produtos. Contudo, prefiro a definiĆ§Ć£o de Michael Levy e Barton Weitz. Para eles, sortimento Ć© o nĆŗmero de diferentes itens dentro de uma determinada categoria de produtos, associado Ć profundidade da categoria de produtos, ou seja, o conjunto de SKU (stock keeping units; em traduĆ§Ć£o, unidade de manutenĆ§Ć£o do estoque) de uma classe de produtos.ā, destaca o professor.
Sobre outros conceitos
Lazzarini tambĆ©m buscou facilitar a conversa sobre administraĆ§Ć£o de sortimentos apresentando alguns termos tambĆ©m utilizados na Ć”rea e de acordo com os autores mencionados:
- Variedade: quantidade de categorias de produtos que sĆ£o ofertados ao consumidor. TambĆ©m Ć© associada Ć disponibilidade de categorias e segmentos.
- Disponibilidade: se relaciona com a oferta de estoques para consumo feita pelo varejista. Ć calculada, normalmente, pela relaĆ§Ć£o do percentual de clientes que encontram estoques nos pontos de venda. Um resultado de 80% indica que Ć© aceitĆ”vel que, a cada dez consumidores, oito encontram na loja o produto desejado, por exemplo.
- SKU: Ć© um cĆ³digo Ćŗnico de identificaĆ§Ć£o de um produto. Se assemelha ao RG ou CPF do produto.
Como alcanƧar uma administraĆ§Ć£o de sortimentos eficaz
Para ser utilizada como estratĆ©gia de marketing, a administraĆ§Ć£o de sortimentos necessita de algumas consideraƧƵes propostas pelo professor. SĆ£o elas:
- A segmentaĆ§Ć£o de mercado expressa nos perfis de grupos de consumidores, distintos entre si, com preferĆŖncias e atributos prĆ³prios. Essa segmentaĆ§Ć£o deve ser identificada e os perfis definidos.
- O pĆŗblico-alvo, voltado especificamente para os segmentos em que a empresa tenha interesse de desenvolver e alcanƧar.
- O posicionamento da organizaĆ§Ć£o, estabelecido por meio do conjunto de benefĆcios dos produtos e serviƧos da empresa que, ao oferecer algo relevante, agrega valor superior Ć proposta.
āFazer uma Ć³tima gestĆ£o de sortimentos engloba o processo de decisĆ£o para determinar quais os itens (SKU) a acrescentar, diminuir, manter ou eliminar do elenco de uma determinada categoria. O objetivo Ć© satisfazer a demanda do consumidor, atingindo expectativas de varejistas e fabricantes.ā, aponta Lazzarini.
Os dois lados da moeda
O professor tambĆ©m apresenta, de maneira resumida, diferentes abordagens de grandes teĆ³ricos do Varejo. Confira abaixo:
- Mais Ć© melhor: quanto mais opƧƵes para escolher, mais liberdade. Esse princĆpio relaciona a qualidade de vida com as oportunidades e quantidades disponĆveis.
- Mais Ć© menos: conhecida como hipĆ³tese da sobrecarga de escolha, Ć© resultante da frustraĆ§Ć£o gerada por grandes sortimentos.
- In medium est virtus: a virtude estĆ” no meio, ou no equilĆbrio. No contexto da administraĆ§Ć£o de sortimentos, eles dependem de dois reguladores, sendo o primeiro o conhecimento do consumidor sobre os atributos de uma categoria de produtos, e o segundo o nĆvel de relevĆ¢ncia que a categoria tem na vida do consumidor em determinada situaĆ§Ć£o de compra.
O encontro do fĆsico com o digital
Entender as dinĆ¢micas de cada setor, respeitando a jornada de compra do consumidor e seus touchpoints (pontos de interaĆ§Ć£o) com as soluƧƵes de produtos ou serviƧos Ć© fundamental, de acordo com Lazzarini.
Assim, alguns detalhes da administraĆ§Ć£o de sortimentos sĆ£o relevantes para a transiĆ§Ć£o do fĆsico para o digital. Veja abaixo:
- AvaliaĆ§Ć£o da demanda nos canais simultaneamente: uma boa experiĆŖncia de compra Ć© resultado de uma boa previsĆ£o do comportamento de compra do consumidor, que vem da detecĆ§Ć£o da demanda. āĆ preciso quebrar os āfeudosā de demanda e criar uma versĆ£o Ćŗnica. Isso serve para alimentar os mecanismos de previsƵes de vendas em todos os canaisā, explica.
- ExperiĆŖncia de compra: os consumidores desejam uma experiĆŖncia de compra Ćŗnica e consistente em qualquer situaĆ§Ć£o. Isso reforƧa a necessidade de estratĆ©gias de marketing com base nos padrƵes e preferĆŖncias de compra exclusivos do cliente.
- Variedade de canais centrados no cliente: a dica aqui Ć© selecionar e adaptar os canais aos padrƵes de cada cliente. āĆ necessĆ”rio reconhecer que o canal da demanda (onde o pedido Ć© feito) pode ser diferente do canal de atendimento (de onde a mercadoria Ć© retirada ou enviada). Esta mudanƧa Ć© bastante significativa, uma vez que o sortimento selecionado deve ser coordenado com o canal de demanda do cliente, enquanto as operaƧƵes de estoque e distribuiĆ§Ć£o devem ser alinhadas com o canal de atendimento. Com base no cliente e no tipo de compra, podem ser canais iguais ou separados.ā
- Cadeias de abastecimento flexĆveis e sensĆveis: cumprir com propostas Ć© essencial para manter a fidelidade de clientes, e garantir uma boa experiĆŖncia de compra em todos os canais requer cadeias de suprimentos Ć”geis e flexĆveis. āPor isso, o varejista precisa buscar soluƧƵes de cadeia de suprimentos em tempo real, com abrangĆŖncia de todos os canais e todos os centros de distribuiĆ§Ć£o simultaneamente. Os estoques poderiam ser agrupados virtualmente em toda a rede, para dar suporte a essas operaƧƵes em tempo real. A separaĆ§Ć£o das operaƧƵes de estoque e distribuiĆ§Ć£o por canal cada vez mais serĆ” ineficiente, com poucas chances de oferecer o nĆvel de serviƧo ao cliente exigido pela experiĆŖncia de compra em todos os canaisā, conclui.
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