Quem nunca comprou por impulso apenas para se sentir bem, que atire a primeira pedra. Seja para suprir um desejo reprimido ou para comemorar os poucos sinais de normalidade deste ano, o revenge buying, tambĆ©m conhecido como revenge spending, tem apresentado picos de aparecimento desde o inĆcio da pandemia, mesmo que ela nĆ£o seja a causa para este fenĆ“meno.
No varejo fĆsico, por exemplo, as comercializaƧƵes mostraram que a ācompra por vinganƧaā (traduĆ§Ć£o livre do termo) continuarĆ” a acontecer, em maior ou menor escala, pois estĆ” totalmente ligada ao comportamento humano. No entanto, esse movimento ainda nĆ£o Ć© capaz de compensar o ātempo perdidoā durante o fechamento do comĆ©rcio, e nem Ć© um acontecimento presente na vida de todas as pessoas.
āSabemos que uma grande parte da populaĆ§Ć£o se encontra sem emprego e os auxĆlios emergenciais serĆ£o suspensos a partir de 2021. Nesse sentido, o consumo a partir da indulgĆŖncia pode sofrer reduĆ§Ć£o significativaā, explica o professor de marketing, Marcelo Teixeira.
Mas por que agora?
Somos naturalmente movidos por atos compensatĆ³rios. Comemos mais quando perdemos peso, para compensar o esforƧo. Dormimos mais nos fins de semana, para compensar a semana acordando cedo. Da mesma forma, gastamos mais quando achamos que merecemos.
E foi durante o distanciamento social que as pessoas passaram a pensar mais na escolha daquilo que consumiam, ao mesmo tempo em que queriam dar sentido e compensar uma rotina restrita, sem atividades como passeios, restaurantes e compras em lojas fĆsicas.
Mas quem acredita que o revenge buying vai passar conforme avanƧarmos no cenĆ”rio da pandemia (com vacina rodando e baixas taxas de transmissĆ£o), melhor olhar para todo o cenĆ”rio novamente.
Segundo Teixeira, a atividade de consumo sempre estarĆ” relacionada a dois aspectos: necessidade e/ou desejo. Durante uma situaĆ§Ć£o como a que vivenciamos ao longo de 2020, a indulgĆŖncia pelo consumo pode ser entendida como uma forma de escape para as limitaƧƵes impostas por conta da pandemia, mas nĆ£o Ć© um caso isolado.
āEntendo que as festas de final do ano, por exemplo, impulsionam ainda mais esse tipo de comportamento e o que se observa sĆ£o pessoas preferindo as lojas de rua e shopping centers. Isso aponta para o entendimento de que as compras virtuais parecem nĆ£o atender as expectativas plenamenteā, observa.
Revenge buying estratƩgico
Se o revenge buying diminuir subitamente, sentiremos visivelmente esse impacto no comƩrcio que jƔ estƔ restrito?
Para Teixeira, esse cenĆ”rio nĆ£o acontecerĆ”, pelo menos para os bens de consumo. āNa realidade, sempre convivemos com esse conceito e comportamento de compra. Esse fenĆ“meno deverĆ” nos acompanhar constantemente, porĆ©m, pode ser negativamente impactado por conta de limitaƧƵes financeirasā, lembra.
O professor reforƧa ainda que pensar no revenge buying Ʃ importante para marcas e consumidores. No caso das marcas, eventos do tipo ajudam a compreender cada vez mais a maneira como o consumidor se comporta e como consome os produtos.
JĆ” na perspectiva do consumidor, o revenge buying tende a ser menos perceptĆvel e, nesse sentido, ele deve continuar reagindo impulsivamente Ć compra para satisfazer alguma privaĆ§Ć£o.
āO mais importante, considerando o ambiente digital atual, Ć© lembrar que as marcas podem, e devem, interpretar os rastros digitais de seus consumidores para identificar (novos) hĆ”bitos e comportamentos de consumoā, aponta o professor.
Compras que valem a pena
Em meio ao consumo impulsivo, fica atĆ© difĆcil saber como fazer uma compra valer o dinheiro e nĆ£o gerar remorso depois. Ć claro que isso depende do comportamento individual do consumidor, mas, sem dĆŗvidas, algumas marcas podem contribuir para dar sentido Ć compra.
āPor meio de estratĆ©gias relacionadas a qualidade, entrega, comodidade, preƧo, entre outras, Ć© possĆvel dar valor verdadeiro a uma compra. PorĆ©m, no final, ela sempre vale a pena quando o produto adquirido Ć© usado atĆ© o seu esgotamento, trazendo algum tipo de benefĆcio para o consumidorā, adverte Teixeira.
E, para quem acha que estudar o revenge buying pode ser uma forma de conduzir o consumidor a comprar mais, basta pensar que, hoje em dia, Ć© difĆcil mover comercialmente um fenĆ“meno somente com propagandas.
āNas Ćŗltimas duas dĆ©cadas, o consumidor vem adquirindo repertĆ³rio suficiente para nĆ£o se deixar induzir ao consumo a partir da publicidade das marcas. O fenĆ“meno do compartilhamento de informaƧƵes confirma essa mudanƧaā, ressalta o professor.
Nesse sentido, ele indica que o protagonismo do consumo estĆ” com o consumidor e, por isso, as marcas que agirem sem Ć©tica, ou de forma enganosa, serĆ£o desconsideradas por ele. Ć por isso que permanece a seguinte lei: oferecer, acima de tudo, bons produtos, serviƧos e atendimento.
Gostou desse assunto? Saiba tambƩm como as mudanƧas de consumo influenciam os micro-momentos.