No livro “Guerreiros não nascem prontos”, José Luiz Tejon foi muito assertivo ao utilizar de forma análoga a “Lei do mínimo” para explicar como limitamos nosso crescimento profissional. Se você não é da área de ciências agrárias, provavelmente deve estar se perguntando o que é esta bendita lei, então, segue uma breve explicação. A “Lei do mínimo” ou “Lei de Liebig (o propositor da teoria)”, é um princípio relacionado à nutrição de plantas que estabelece que o desenvolvimento do vegetal será limitado pelo nutriente faltoso ou deficitário, ainda que todos os outros elementos estejam presentes.
Para ajudar na compreensão, peço que use sua imaginação e visualize a figura de um barril, em que as vigas representam os elementos necessários para a produção, no caso, ilustrada pela água. A produção “vaza” ou é limitada pela menor viga ou nutriente do barril, ainda que todos os outros sejam suficientes.
Agora, ao invés da planta, imagine que estamos falando de você e que os nutrientes em questão são atributos profissionais como: empatia, autoconfiança, iniciativa, compreensão, falar em público, inglês, espanhol, Excel, enfim, <coloque aqui a habilidade que desejar>. Como você já deve ter concluído, a linha de raciocínio é a mesma. Nosso potencial “vaza” onde somos mais fracos. Buscamos aperfeiçoar, especializar, maximizar, etc., sempre o que temos de melhor, quando na verdade o que nos limita é o nosso mínimo. Por exemplo, adianta toda uma bagagem técnica, com graduação, pós-graduação e uma pilha de títulos, se você é tímido(a) e falar em público lhe causa calafrios? É evidente que adianta, que a qualificação é importante, mas você concorda que os horizontes seriam outros se sua timidez fosse superada e sua habilidade de se expressar publicamente desenvolvida? Todos temos nossos nutrientes mínimos. O importante é identificá-los e, o desafio, desenvolvê-los.
E neste contexto de aperfeiçoamento contínuo, peço permissão ao Tejon para contribuir com seu raciocínio utilizando de outras duas leis gerais da adubação, a “Lei dos incrementos decrescentes” e a “Lei do máximo”, ambas propostas por Mitscherlich e que dizem respeito ao desenvolvimento das plantas mediante fornecimento de nutrientes. O princípio da primeira estabelece que os aumentos de produtividade são cada vez menores a medida que suprimos a deficiência de determinado nutriente.
Se traçarmos um paralelo com nosso desenvolvimento profissional, vamos notar que a tendência “para quem não tem nada, metade é dobro” também é válida. No início de nossa carreira, meio que tudo é novidade, resultando em ganhos proporcionalmente maiores. À medida que vamos nos especializando, nosso potencial continua crescendo, porém, em intervalos cada vez menores, como nas plantas.
É aqui que coloco uma reflexão. Considerando a complementariedade das leis do mínimo e dos incrementos decrescentes, será que vale a pena a busca obcecada por somente um assunto? Vale a pena fazer cursos e mais cursos sobre determinada temática? Os ganhos realmente são tão significativos? Evidente que se aperfeiçoar e manter-se atualizado é importante, seja em qual segmento for. Mas talvez um “turismo” em outras áreas agregue muito mais do que ficar olhando seu “próprio quintal”. A melhor forma de pensar fora da caixa é visitando a caixa dos outros. O intercâmbio pode ser muito válido. Às vezes há técnicas “lá” que podem ser incorporadas “cá”.
A “tara” pela especialização pode, inclusive, atrapalhar seu desenvolvimento, assim como preconiza a “Lei do máximo”, que estabelece que o excesso de determinado nutriente reduz a eficácia de outros, resultando, consequentemente, em redução da produção. Evidente que você não vai “emburrecer” se ficar aperfeiçoando determinada habilidade. Não é isso. Mas será que ao explorar apenas um aspecto, buscando seu máximo, não estamos negligenciando e suprimindo outros? O que, dependendo do contexto, pode trazer consequências drásticas, já diria o especialista em datilografia. Em um ambiente de constante evolução tecnológica e inovação, ser plural é fundamental.
Portanto, além de manter atualizado nossos “nutrientes” já satisfeitos, devemos realizar de forma periódica auto “análises de solo”, buscando identificar os limitantes e, o mais difícil, adubar. Pense, se já é custoso sairmos da zona de conforto com o que gostamos e estamos habituados, imagina com o que é novo e exige um maior investimento de “adubo” em um primeiro momento.
Botão (João Rosa) é professor do Pecege e youtuber no canal Botão do Excel.