O Brasil é campeão no uso de agrotóxicos. Essa é a principal afirmação sobre o uso de químicos na agricultura nacional, mas não para por aí. Contaminação de alimentos por resíduos acima do limite e aumento na incidência de doenças humanas também fazem parte da informação popular. Contra a ideia generalizada sobre os agrodefensivos, o jornalista Nicholas Vital, autor de Agradeça aos Agrotóxicos por Estar Vivo, derrubou algumas afirmações por meio de dados e estudos científicos, trabalho de quase três anos de apuração. Ao Next, ele desvendou os maiores mitos e verdades sobre os agrotóxicos. Confira.
Mito: Brasil é campeão no uso de agroquímicos
Para derrubar esse principal mito, o autor lembra que, em primeiro lugar, quase tudo no país é mais caro devido às taxas e impostos sobre produtos. No caso de defensivos agrícolas, a avaliação de quantidade é feita em valor de venda pela indústria, ao invés do volume total do produto adquirido. “Esse último é um meio mais ‘justo’ de avaliação. E ficamos atrás da China e dos Estados Unidos, que consomem 1,783 milhões de toneladas e 407 mil toneladas, respectivamente. Usamos 367 mil toneladas por ano, o peso só é mais caro que as dos outros dois”, explica. Segundo Vital, apesar da grande quantidade, o produto é usado de forma eficiente no cultivo nacional. Em comparação ao Japão, que usa quase 11 quilos do ingrediente para cada hectare cultivado, o Brasil usa pouco mais de meio quilo para o mesmo espaço. “E mesmo assim colhemos mais. A cada dólar investido em agroquímicos, geramos 140 quilos de alimentos. O Japão consegue colher apenas oito quilos”, comenta.
Verdade: sem agrotóxicos, não teríamos agricultura
Ser um país tropical é uma vantagem em relação à produtividade na agricultura. Anualmente é possível ter três safras seguidas, ou seja, fazer plantio o ano todo. Diferente dos países do hemisfério Norte, que têm o inverno como defensivo natural contra pragas, o Brasil encontra maiores dificuldades em evitar a proliferação de insetos que comprometem uma lavoura. “Justamente por isso temos que recorrer aos pesticidas, para evitar que a safra corrida tenha que parar por danos. O uso de químicos é ainda mais importante em produções que estão dentro dos trópicos”, lembra o jornalista. Mesmo com uma larga produção, a quantidade de agrodefensivos usados nacionalmente ainda continua menor, inclusive comparado aos países que têm produção ativa apenas na primavera e verão.
Mito: orgânicos são melhores que alimentos convencionais
Alimentação saudável e orgânicos sempre foram relacionados, mas Vital afirma que esse tipo de alimento não pode ser considerado melhor e nem pior que aqueles produzidos em maior escala com uso de agrotóxicos. “Cientificamente, eles não têm nenhuma vantagem sobre o convencional. Isso é um marketing para melhorar as vendas. Nem mesmo possuem maior valor nutritivo, pois isso teria que estar destacado no rótulo. Mentir sobre qualidade nutricional seria um crime contra o consumidor.” O autor lembra ainda que argumentar pelo sabor, descrevendo um orgânico como mais palatável, é uma inverdade para aumentar a aceitação do produto na cesta brasileira.
Verdade: alimentos orgânicos são caros, muito caros
Sem o uso de agrodefensivos, o orgânico se torna mais sensível a pragas e doenças. Por conta disso, sua produção é feita em pequena escala, que gera melhor controle da qualidade e saúde do alimento. Em compensação, seu valor supera o de um alimento convencional, chegando a custar o dobro, triplo ou quatro vezes mais. “Durante minha apuração, liguei para uma loja de orgânicos no Rio de Janeiro e lá eles vendiam o quilo da maçã a 23 reais. Em um supermercado de rede, um quilo sai por seis reais”, conta Vital. Para ele, o orgânico é um produto de grife que atende a nichos específicos, mas sozinho não poderia atender a demanda populacional de alimentação. “Até 2050 seremos de 9 milhões de pessoas no mundo. Como vamos alimentar tanta gente fomentando uma agricultura que produz menos? Tem quem consiga comprar orgânico ou produzir, isso é ótimo. Só não devemos demonizar uma indústria que abastece tanta gente por usar agroquímicos”, ressalta.
Mito: agrotóxicos aumentam a incidência de câncer
Uma das maiores preocupações que ronda a aplicação de defensivos na agricultura é sua relação com doenças, inclusive intoxicação humana e desenvolvimento de câncer. Vital explica que a partir do levantamento da American Cancer Society, a taxa de incidência e mortalidade por câncer vem decaindo mundialmente em todos os tipos da doença, exceto pelo câncer de pulmão, causado pelo fumo. “Por mais que a produção demande agrodefensivos, esses índices não estão piorando. Estamos expostos a resíduos químicos o tempo todo, isso desde um copo de água e da poluição no ar. O nosso corpo está preparado para absorver e eliminar a maior parte disso, o que torna muito simplista essa relação entre câncer e agrotóxicos”, observa Vital. Segundo ele, o consumidor também deve saber que existem programas de análise de resíduos, que servem como referência de amostragens para a produção nacional. Além disso, eles garantem o bom uso dos defensivos químicos. Se interessou pelo assunto? Leia também o artigo “Aumentar a produção de alimentos. Uma tarefa divina?”