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O futuro da alimentação no mundo

Tive a oportunidade de participar do Thought for Food (TFF) Academy & Summit no Rio de Janeiro/RJ. A primeira edição a ser realizada fora da Europa e que reuniu jovens mais de 50 países. Neste artigo, vou compartilhar a minha experiência, ao longo dos 5 dias de evento, e apresentar algumas das discussões que farão parte das nossas agendas nos próximos anos. Inicialmente, o que é o Thought for Food (TFF)? Trata-se de uma organização focada em envolver e capacitar a “próxima geração” de inovadores para resolverem os complexos desafios a serem enfrentados pelas cadeias agroalimentares ao redor do mundo. Além disso, suas atividades estão focadas na “próxima geração”, isto é, nos jovens que estão globalmente conectados, os quais são socialmente engajados e tecnologicamente experientes. A produção de alimentos é uma das atividades mais nobres e desafiadoras (por incrível que pareça, muitas pessoas irão demorar para perceber e valorizar isso). Nesse contexto, um dos maiores desafios da agricultura estará ligado ao incremento de produtividade, a qual se dará pelo desenvolvendo de novas soluções e inovações tecnológicas. A indústria agroalimentar é a maior do mundo. A produção de alimentos ao redor do globo utiliza cerca de 34% da terra, responde por 24 a 30% das emissões de gases de efeito estufa e utiliza cerca de 69% da água doce. A população mundial consome 1,5 vezes o suprimento natural de alimentos do planeta. Por outro lado, estima-se que 33% de todos os alimentos sejam desperdiçados. Essa será a direção: aumentar a produtividade e reduzir o desperdício ao longo das cadeias alimentares, principalmente na sua logística e distribuição. As novas tecnologias serão fundamentais para destravar a produtividade (já comentei sobre elas em outro artigo, mas me refiro à Big Data, GIS, IoT e Inteligência Artificial). Precisamos analisar o fluxo de comércio e tarifas, otimizando a oferta e logística de alimentos com o uso de Big Data. Dentro dos “Grandes Dados” estão os pequenos padrões. Padrões que observamos, quando as máquinas ajudam a identificar informações, e os humanos transformam essas informações em conhecimento. Apesar disso, as pessoas não sabem como a tecnologia poderá ajudá-las. Esse será outro nosso desafio. Portanto, o que precisamos urgentemente é de uma nova mentalidade, em que a nossa atenção estará focada em uma economia compartilhada, baseada em novas tecnologias (o impacto das startups, nesse contexto, não pode ser ignorado) e novos valores. Apenas as proposições de valores diferenciadoras criam valor aprimorado e sustentável. Para isso, todos os atores do sistema alimentar devem trabalhar juntos e assumir a responsabilidade por suas ações. Estamos remodelando o nosso sistema alimentar em conjunto com a próxima geração. Pela primeira vez, as gerações Z e Y gastam mais com comida do que com roupas. Para os millennials, por exemplo, a alimentação significa controle, identidade e comunidade. A maneira como as pessoas se alimentam está mudando: 1) as 25 maiores empresas de alimentos perderam US$ 18 bilhões em market-shareentre 2009-2015; 2) pequenas e médias empresas responderam por 46,4% das vendas dos CPG (bens de consumo embalados, em inglês, consumer packaged goods) no ano passado, 3) as vendas globais de produtos alimentícios saudáveis são estimadas em US$ 1 trilhão. Neste cenário, o que esperamos dos nossos sistemas de produção de alimentos? A resposta não é tão simples, mas inclui: 1) produção segura; 2) controle e garantia de qualidade; 3) alcance global, descentralizado e estável; 4) precisão e rastreabilidade; 5) baixo nível de tarifas e impostos; 6) oferta rápida e eficiente de matérias-primas; 7) sustentabilidade e 8) custo efetivo, otimizado e balanceado. O que observei, ao longo de uma semana, foram jovens com um pensamento multiespectral. Todos preocupados com o impacto real através do seu trabalho nos sistemas agroalimentares e se utilizando de modelos de negócios abertos e com abordagens colaborativas. O Brasil tem um papel fundamental na produção de alimentos. No entanto, além dos nossos desafios naturais, precisamos pensar na “próxima geração”. O quanto estamos lhes capacitando em liderança, cooperação, consciência profissional, comunicação e pensamento crítico? O nosso desafio também estará além do campo e perpassa pela construção de uma sociedade que inspire ideias, envolva diversas pessoas e a apoie startups impactantes. Theodore Roosevelt argumentava que, “de longe, o melhor prêmio que a vida oferece é a chance de trabalhar duro no trabalho que vale a pena”. O agronegócio nos proporciona isso. Trabalhar em conjunto para alimentar 9 bilhões de pessoas no futuro. Observação: Participei do Thought for Food (TFF) Academy & Summit no Rio de Janeiro/RJ como representante da ESALQ/USP. Aproveito para agradecer o trabalho e dedicação da embaixadora Bruna Rodrigues de Almeida, a qual viabilizou a minha participação. Artigo escrito por Haroldo José Torres da Silva, professor dos MBAs USP/Esalq