Você já imaginou entrar em uma loja para comprar uma bicicleta e o vendedor tentar lhe vender um carro? Apesar de ambos os recursos estarem inseridos no contexto de mobilidade, as exigências e condições para funcionamento das soluções são bem distintas, concorda? A analogia é uma tentativa de explicar a falha de comunicação que muitas vezes existe entre o desejo do cliente e a solução apresentada pela empresa. E no agronegócio isso não é diferente. Especialmente se você for pequeno e médio produtor. A agricultura brasileira desfruta de uma gama de soluções que suportam a produção agrícola, desde a produção no campo até a comercialização do produto final no segmento em questão. Muitas dessas ferramentas, entretanto, são complexas e exigem investimentos relativamente elevados, restringindo sua adoção a um grupo de produtores mais estruturados, que contam com equipes de colaboradores dedicados à gestão da atividade. Produtores de menor escala ficavam por “raspar o tacho”, aproveitando o que era possível dos recursos. Ou seja, um ruído entre a necessidade do cliente e a solução disponível. Um cenário que começou a mudar, pelo menos em Mato Grosso, com o projeto Agrihub. Lançado há pouco mais de um ano pelo sistema da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso (Famato), juntamente com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Mato Grosso (Senar-MT) e o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o programa cria uma rede de relacionamento entre os desenvolvedores das tecnologias e os potenciais usuários das tecnologias, em especial, produtores de menor escala. A ponte entre a solução e o problema. Para as empresas emergentes – as tais das startups – com olhares voltados ao agronegócio, a iniciativa Agrihub é fantástica. Não somente pelo fato de poder apresentar suas soluções e prospectar negócios, mas principalmente pela oportunidade de validar seu produto, ouvir críticas e identificar pontos de melhoria. Neste contexto, portanto, o engajamento do produtor é fundamental. Afinal, para criticar é necessário testar ou, no mínimo, conhecer as soluções propostas. E o produtor rural, o que ganha com isso? Ora, as transformações tecnológicas estão presentes em nosso cotidiano, seja na vida pessoal ou profissional. E, de novo, no agro isso não é diferente. Diante dos desafios de aumentar produtividades e reduzir custos de produção, ficar antenado às novidades é fundamental para que o produtor se mantenha na atividade. Como diria Charles Darwin, o pai da teoria da evolução: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. E esta sobrevivência está ligada, sobretudo, à mudança de comportamento. De nada adianta reclamar e exigir soluções, se quando a oportunidade existe, não há contribuição. E em uma nova citação, como colocou Albert Einstein: “insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Portanto, o primeiro passo para a mudança é sair da zona de conforto. O Agrihub proporciona a conexão das pontas e estabelece uma relação de “ganha-ganha”, onde os esforços contribuem para a inovação. Se você vai comprar um carro ou uma bicicleta, não importa. O objetivo é encontrar o que você deseja. Artigo escrito por João Rosa, professor dos MBAs USP/Esalq
Agrihub: a bicicleta e o carro
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