O termo ainda é pouco conhecido, mas as técnicas relacionadas a ele estão cada vez mais presentes no universo corporativo – estamos falando do neurobusiness, que é a aplicação da neurociência ao mundo dos negócios. “A neurociência estuda mecanismos de funcionamento da mente, sendo que uma parte dela se dedica ao entendimento dos aspectos cognitivos e comportamentais do indivíduo, a influência das emoções em suas formas de expressão e até na construção de sua visão de mundo”, explica Fátima Jinnyat, pesquisadora de neurociência com foco comportamental e professora dos MBAs USP/Esalq. Nos negócios, a neurociência pode influenciar desde a tomada de decisões pelo líder até o ambiente de trabalho, que pode ser mais ou menos estimulante e criativo para os colaboradores. Também vem sendo cada vez mais usada como base para a mediação e solução de conflitos em diversas equipes – ações que se somam com objetivo de melhorar o desenvolvimento dos negócios.
Processos mentais
A neurociência comportamental vem sendo utilizada há mais de uma década para entender como os processos mentais podem influenciar as pessoas no ambiente de negócios, seja como líderes, gestores, executivos ou consumidores. “Como exemplo disso, o Facebook, que hoje passa por seu inferno astral, tem seu sucesso ancorado em descobertas da neurociência, pois cada like em sua timeline ativa o sistema de recompensa no cérebro. Nossa condição de seres emocionais, além do valor em viver em sociedade, faz com que a aprovação dos outros seja fundamental para o nosso progresso e, a depender da quantidade de autoestima, pode se tornar viciante a busca de likes na rede”, comenta a pesquisadora.
Tomada de decisões
O processo decisório envolve dois sistemas de pensamento: um racional e outro intuitivo, segundo o psicólogo Daniel Kahneman, autor do livro Rápido e Devagar e ganhador do Nobel de Economia em 2002. Além disso, a possibilidade de haver perdas ativa o medo: o cérebro detesta muito mais perder do que gostar de ganhar. Assim sendo, o medo ‘se torna’ um grande influenciador nos processos decisórios, sejam eles de compra ou uma aplicação financeira por exemplo. “Ele emerge de modo inconsciente, à revelia do consumidor, que pode sequestrar a decisão racional, conforme sua relação prévia (arquivada na memória) com perdas”, explica Fátima. O medo acaba então superdimensionando algo ruim, mesmo que haja baixa probabilidade disso ocorrer. “O medo do pior cenário tem muito mais força emotiva sustentando a perspectiva do pior cenário”, segundo Kahneman.
Ambiente sem conflito e mais criativo
A neurociência também vem sendo cada vez mais utilizada como base para a resolução de conflitos corporativos. Programas como neurocoaching e neuroliderança vêm se popularizando e promovem o desenvolvimento de uma inteligência que capacita a perceber os pontos de vulnerabilidade associados a comportamentos negativos, por exemplo, cita Fátima. “Entender nossos processos emocionais e a química do cérebro que envolve cada emoção primária contribui para o entendimento do impacto de nossas atitudes na interação com os outros.” A professora ressalta que ambientes relaxados, informais e cordiais favorecem a criatividade, pois as emoções positivas – como a alegria – liberam neurotransmissores que favorecem a geração de ideias e a solução de problemas. “Por outro lado, o cortisol liberado pelo medo de um gestor agressivo ou pelo estresse provocado por um trabalho extenuante leva à desmotivação, falha na memória e falta de foco. Entender a anatomia das emoções e suas consequências sobre o ambiente das equipes ajuda a reduzir conflitos e criar ambientes favoráveis à produtividade e bem-estar”, afirma Fátima. Gostou do tema? Deixe seu comentário! 😊