Agro 4.0, também chamada de agricultura digital, é a produção agrícola cada vez mais embasada em tecnologia de ponta e conteúdo digital. A chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Massruhá, concedeu uma entrevista ao Next e falou sobre o avanço e as barreiras no uso da tecnologia no campo. Confira!
Quais os principais benefícios da aplicação da agricultura 4.0?
A Agro 4.0 ou melhor, a agricultura digital, visa empregar métodos computacionais de alto desempenho, rede de sensores, comunicação máquina para máquina (M2M), conectividade entre dispositivos móveis, computação em nuvem, métodos e soluções analíticas para processar grandes volumes de dados e construir sistemas de suporte à tomada de decisões de planejamento e manejo. Além disso, contribuirá para elevar os índices de produtividade, da eficiência do uso de insumos, da redução de custos com mão de obra, melhorar a qualidade do trabalho e a segurança dos trabalhadores e diminuir os impactos ao meio ambiente.
O que está sendo usado no campo em termos de tecnologia?
A agricultura digital engloba a agricultura e pecuária de precisão, a automação e a robótica agrícola, além de técnicas de big data e a Internet das Coisas. O uso das TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) e das novas tecnologias digitais é um caminho sem volta no mundo rural. Na era do Agro 4.0, a TIC é a mola propulsora e integradora dessa inovação dentro e fora da cadeia produtiva, por ser utilizada em aplicações no melhoramento genético, biotecnologia e bioinformática, na pré-produção; agricultura de precisão e equipamentos diversos na produção; melhorias na logística e transporte na pós-produção. Todas estas tecnologias e inovações estarão cada vez mais conectadas, auxiliando na tomada de decisão e gestão rural.
Mas há barreiras para o avanço da tecnologia no campo…
A dificuldade para acessar a Internet ainda é um dos limitantes para o avanço dos aplicativos móveis no meio rural. Entretanto, os indicadores de uso vêm melhorando ao longo dos anos. A pesquisa TIC Domicílios 2015 divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), apontou avanço do uso dos telefones celulares para acessar a Internet tanto no meio rural quanto no meio urbano. De acordo com a pesquisa, em 2015, a proporção de indivíduos que possuem telefone celular na região urbana é de 86% e na rural é de 71%. Destes, 90% já acessaram a Internet na região urbana e 85% na região rural.
Portanto, é fundamental o desenvolvimento de diversos setores associados à tecnologia, tais como telecomunicações, serviços de Computação em Nuvem (Cloud Computing) e Análise de Dados e automação, de modo que os produtores que necessitem de novas tecnologias possam garantir sua competitividade e sustentabilidade no mercado nacional e internacional.
Como a tecnologia pode melhorar a produtividade de alimentos no mundo?
No campo, a busca pela otimização no uso dos recursos naturais e insumos fará com que a fazenda do futuro seja massivamente monitorada e automatizada. Sensores dispersos por toda a propriedade e interligados à Internet (Internet das Coisas) gerarão dados em grande volume (Big Data) que necessitarão ser filtrados, armazenados (computação em nuvem) e analisados. A força de trabalho humana não será capaz de gerenciar essa quantidade de dados e necessitará de algoritmos cada vez mais aprimorados por meio de técnicas de inteligência computacional e computação cognitiva para auxiliá-los no processo de análise. Após a análise, o ciclo é fechado por meio de comandos remotos aos tratores e implementos agrícolas que, munidos de GPS, farão intervenções pontuais apenas onde necessário para otimizar custo, produção e impacto no meio ambiente. Tem-se a agricultura conectada permitindo que de casa, ou da sede da fazenda, produtores possam acompanhar remotamente, pelo computador, tablet ou smartphone, o desempenho de suas máquinas nas lavouras por telemetria, a transmissão automática de dados via sinal de telefonia celular.
Assim, com apoio destas tecnologias, o produtor, as cooperativas, e o governo podem tomar micro-decisões e macro-decisões mais assertivas e com isso conseguir melhorar a produção agrícola com uso sustentável dos recursos naturais e insumos, minimizando os custos.
O que a Embrapa vem produzindo para a Agro 4.0?
Sistema Roda da Produção – aplicativo para dispositivo móvel, que visa ao suporte à tomada de decisão em propriedades produtoras de leite, principalmente de pequeno e médio portes. A partir de informações acerca do estágio produtivo e reprodutivo de cada animal, é possível a visualização do rebanho como um todo, permitindo ao usuário a identificação de prováveis incorreções, e seus respectivos ajustes, por meio da interferência no manejo e sanidade do rebanho.
Agritempo – existe na versão web e também encontra-se disponível em plataforma móvel. O Agritempo fornece informações necessárias para o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc). O estudo é elaborado com o objetivo de minimizar os riscos relacionados a perdas agrícolas decorrentes de eventos climáticos e permite a cada município identificar a melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares.
Dados geoespaciais – Sistema Interativo de Suporte ao Licenciamento Ambiental (Sisla), o Sistema Interativo de Análise Geoespacial da Amazônia Legal (Siageo), o Sistema de Análise Temporal da Vegetação (SATVeg) e os estudos do projeto TerraClass, realizados em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que apresentam dados sobre o uso e cobertura da terra nas áreas desflorestadas da Amazônia Legal.
Sistema Diagnose Virtual – possui uma infraestrutura única na área de sanidade para diagnóstico de doenças de plantas via Internet, a fim de subsidiar os agricultores, agrônomos e técnicos agrícolas em suas decisões sobre o manejo de doenças. Visa possibilitar o uso racional de agrotóxicos, o que ajuda a evitar mais danos à saúde e ao meio ambiente, além de reduzir os custos da produção.
Software Gotas – objetiva o auxílio aos agricultores para que estes possam calibrar devidamente os bicos de pulverização e obter parâmetros adequados de deposição de agrotóxicos nos alvos desejados. A versão para a plataforma Android, para tablets e smartphones, pode ser encontrada na loja virtual da Google – Play Store.
Nesse ambiente interligado, onde a geração de conhecimento, a mobilidade e o aumento da oferta de aplicativos para dispositivos móveis são crescentes, espera-se que na era da agricultura digital, o agronegócio, incluindo os agricultores familiares, possa usufruir dos benefícios desta oferta de tecnologia e conhecimento em suas propriedades, propiciando competitividade e melhoria de renda, além do aumento da oferta de alimentos para o Brasil.
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