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O que vocĂȘ precisa saber sobre ecossistemas digitais

O conceito de ecossistemas digitais chegou para ficar, especialmente quando pensamos em varejo e em tudo que mudou no Ășltimo ano. Por isso, o Blog MBA USP/Esalq conversou com Alberto Serrentino, consultor, conselheiro, autor, palestrante e professor do MBA em Varejo FĂ­sico e Online USP/Esalq, que explicou um pouco mais sobre essa tendĂȘncia.

Ele tambĂ©m Ă© fundador da Varese Retail, boutique de estratĂ©gia de varejo e transformação digital, e, como palestrante internacional, realizou mais de 600 apresentaçÔes no Brasil e exterior, incluindo 18 ediçÔes da convenção da NRF (National Retail Federation), em Nova York. É vice-presidente e membro do conselho deliberativo da SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo), alĂ©m de conselheiro e membro de comitĂȘs de inovação de diversas empresas. Autor do livro Varejo e Brasil: ReflexĂ”es EstratĂ©gicas e autor e coautor de outros oito livros e de mais de 300 artigos publicados.

Pluralidade de aplicaçÔes

Antes de mais nada, Ă© preciso ter em mente que o conceito de ecossistemas digitais tem vĂĄrias aplicaçÔes, e uma delas ligada Ă  inovação. “Podemos chamar de ecossistemas de inovação os ambientes em que se encontra a convergĂȘncia entre academia, pesquisa, startups, investidores e aceleradoras, por exemplo, com muito fomento Ă  colaboração e troca e com a criação, inclusive, de clusters – ou aglomerados –, como ocorre em Israel, na China e no Vale do SilĂ­cio”, teoriza.

Contudo, nĂŁo Ă© sobre essa aplicação que vamos falar hoje. O que nos interessa sĂŁo os ecossistemas digitais como modelos de negĂłcio. “Esse conceito se popularizou muito a partir da China com empresas como Alibaba, Tencent e Didi, que atuaram como agentes transformadores do varejo e de toda a cadeia de meios de pagamento, crĂ©ditos e serviços financeiros, em pouco tempo”, define Serrentino.

Portanto, essa leitura dos ecossistemas digitais se refere a empresas que, aos poucos, orientam seu negĂłcio a partir dos clientes-dados, com foco em recorrĂȘncia e em efetivamente conhecer e dominar bases de clientes. “Com isso, Ă© possĂ­vel diversificar o modelo de negĂłcio e criar plataformas abertas de colaboração, crescer com artigos de terceiros e unir varejo fĂ­sico, online, marketplaces, meios de pagamento, carteiras digitais, serviços financeiros, mĂ­dia, entretenimento, conteĂșdo e atĂ© serviços de saĂșde, eventualmente, tudo isso convergindo em torno de bases de clientes.”

Aceleração do desenvolvimento dos ecossistemas digitais

Mas, afinal, por que ficou tĂŁo importante falarmos em ecossistemas digitais? A pandemia de Covid-19 acelerou tendĂȘncias que jĂĄ vinham se manifestando claramente com o gradual aumento da presença digital nas vendas do varejo e todo o mundo.

“JĂĄ observĂĄvamos uma maior fluidez nas jornadas de compras, com clientes intercalando e usando canais fĂ­sicos e digitais, combinados em uma mesma jornada, jĂĄ com algumas categorias fortemente impactadas pelo digital e com os marketplaces aumentando sua dominĂąncia dentro do ambiente digital e passando a ter um poder muito grande de atração de clientes, trĂĄfego e recorrĂȘncia”, ilustra Serrentino.

A pandemia, entĂŁo, provocou um grande salto nos ecossistemas digitais, com o desenvolvimento que levaria alguns anos ocorrendo em poucos meses. “E isso mudou o nĂ­vel de maturidade digital dos consumidores e do varejo, por consequĂȘncia.”

O professor cita o exemplo do varejo alimentar, um dos setores que estava muito atrasado, especialmente se comparado com o resto do mundo. “Com exceção da China e da CorĂ©ia, era o mais atrasado do mundo e, com a pandemia, conseguiu diminuir uma boa parte desse atraso”, explica.

E tudo isso tambĂ©m foi fundamental para que houvesse uma ampliação nos modelos logĂ­sticos e de entregas, com plataformas de delivery que resolvem o problema da “Ășltima milha” e com o processo de supply chain se tornando cada vez mais relevante e crĂ­tico.

NĂŁo dĂĄ para voltar atrĂĄs

O desenvolvimento dos ecossistemas digitais Ă© um fenĂŽmeno irreversĂ­vel. “NĂŁo tivemos um surto momentĂąneo. Tivemos uma mudança de patamar na digitalização de consumidores e empresas e isso nĂŁo vai retroceder. Vamos voltar a ter trĂĄfego em lojas, compras em lojas fĂ­sicas com maior intensidade e frequĂȘncia, compras de experiĂȘncia, socialização e reativação da alimentação fora de casa e de vĂĄrios hĂĄbitos que foram limitados ou impedidos durante a pandemia, mas a maturidade digital nĂŁo vai retroceder, nem o hĂĄbito de usar canais digitais”, alerta Serrentino.

E tudo isso porque os novos processos e modalidades de venda, engajamento e relacionamento com clientes, além dos novos canais que o varejo implantou e ampliou durante a pandemia, não vão deixar de existir.

“O varejo diversificou muito os canais e modalidades de venda. Redes sociais viraram canais, WhatsApp virou canal, modelos de assinatura se tornaram algo muito difundido. Tudo isso Ă© um legado irreversĂ­vel”, completa.

E nĂŁo Ă© para todo mundo!

A busca por evolução do modelo de negĂłcio para entrar na lista de ecossistemas digitais nĂŁo Ă© para todas as empresas. “É preciso ter uma grande capacidade de escalar bases de dados de clientes, de diversificar plataformas de serviços e de desgarrar o negĂłcio de um negĂłcio de varejo, para, entĂŁo, efetivamente poder dominar clientes e gerar valor a partir da capacidade de extrair valor desses clientes e crescer de maneira exponencial em mĂșltiplas frentes”, destaca o professor.

“Vamos viver um processo de congestionamento de marketplace, de carteiras digitais e de tentativas de várias empresas de se tornarem ecossistemas digitais. Provavelmente, isso vai levar a um processo de consolidação em que alguns vingarão e outros não. E estes terão que aprender a se relacionar com as plataformas, os ecossistemas e os próprios marketplaces, porque eles terão um papel dominante na arena digital e, consequentemente, no varejo como um todo”, diz.

E a tal da ESG?

De forma direta, a ESG nĂŁo tem nada a ver com os ecossistemas digitais. Mas calma que vamos te explicar melhor o que Ă© isso. TambĂ©m popularizada durante a pandemia, a ESG Ă© uma sigla em inglĂȘs para environmental, social e governance e consolida, em uma Ășnica agenda estratĂ©gica, as frente ligadas a responsabilidade ambiental, social e de boa governança das empresas.

O termo se refere Ă  somatĂłria de coisas que as empresas tratavam de maneira dispersa e desintegrada, mas que, na verdade, fazem muito sentido de maneira unificada. E, dentro da agenda de ESG, cresce o sentimento de que consumidores passam a cobrar e discriminar cada vez mais marcas, produtos e empresas de varejo, a partir da visĂŁo que eles tĂȘm de suas prĂĄticas nessas frentes.

A grande novidade Ă© que investidores e o mercado de investimentos tambĂ©m passaram a definir suas escolhas e decisĂ”es de alocação de recursos com base em empresas que reconhecidamente tĂȘm boas prĂĄticas de ESG.

“A visĂŁo Ă© que empresas ativas e engajadas nas agendas ambiental, social e de boa governança, que envolve transparĂȘncia e tudo que estĂĄ relacionado a relacionamento com stakeholders, sĂŁo organizaçÔes mais inclusivas, que trabalham melhor a diversidade, e hĂĄ uma clara leitura de que isso leva a negĂłcios mais sustentĂĄveis, lucrativos e inovadores a longo prazo”, comenta Serrentino.

A relação da ESG com ecossistemas digitais

Agora que vocĂȘ sabe um pouco mais sobre a ESG, jĂĄ entendeu que empresas ligadas a pautas ambientais, sociais e de boa governança beneficiam nĂŁo sĂł a relação com o cliente, que estĂĄ mais vigilante e conectado com essas questĂ”es, mas tambĂ©m incentivam investidores a priorizĂĄ-las, porque enxergam potencial de crescimento a longo prazo.

E as empresas que buscam se desenvolver como ecossistemas digitais precisam ser mais dispostas, colaborativas, inovadoras, abertas ao erro e Ă  experimentação. E tudo isso funciona melhor em empresas receptivas Ă  inclusĂŁo, diversidade, visĂŁo de stakeholders e transparĂȘncia. “EntĂŁo, sim, essas agendas acabam sendo, de alguma maneira, convergentes”, conclui Serrentino.

E vocĂȘ, jĂĄ sabia tudo isso sobre os ecossistemas digitais? O MBA em Varejo FĂ­sico e Online tem aulas dedicadas ao tema. Saiba mais!

Autor (a)

Marina Petrocelli
Marina Petrocelli
Mais de 12 anos se passaram desde minha primeira experiĂȘncia com Comunicação Social. Meus primeiros anos profissionais foram dedicados Ă s rotinas de redaçÔes com pouca ou nenhuma relevĂąncia digital. O jornalismo plural se resumia em apurar os fatos, redigir a matĂ©ria e garantir uma foto expressiva. O primeiro sinal de mudança veio com a proposta para mudar de realidade e experimentar um formato diferente de produzir. DaĂ­ pra frente, as particularidades do universo do marketing se tornaram permanentes. Ah! TambĂ©m me formei em Direito (com inscrição na OAB e tudo). Mas nem tudo se resume Ă s minhas habilidades profissionais. Como produtora de conteĂșdo, me interesso por boas histĂłrias, de pessoas reais ou em sĂ©ries, filmes e livros, especialmente distopias. Gosto de montar roteiros de viagens e reconhecer estrelas e constelaçÔes em um aplicativo no celular. Museus, mĂșsica e arte no geral chamam minha atenção, assim como cultura pop.

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