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Mercado de pecuária: é possível prever o que vem por aí?

Mesmo diante de poucas certezas, as expectativas para uma recuperação expressiva da economia não diminuem. A discussão, no entanto, está acompanhada de tópicos adicionais, que envolvem análises políticas, de consumo e produtivas, inclusive quando pensamos no mercado de pecuária.

Com uma visão sincera sobre a temática, o professor Thiago Bernardino, do MBA em Agronegócios USP/Esalq, explica que muitos produtores ainda estão sem reação e cercados por incertezas. Apesar de influenciar nas decisões, o momento até agora vivido também é referência para aprendizados, inclusive pensando na economia geral e na pecuária.

“A mensagem principal é saber o que queremos ser daqui cinco ou 30 anos. Essa crise nos trouxe muitos questionamentos e um olhar para o que ainda vai mudar”, lembra.

Por isso, o professor listou as seguintes características que serão parte do mundo a partir de agora, no qual a pecuária se destaca pela produção e oferta de alimentos:

  • Mudanças dos hábitos alimentares
  • Proteção doméstica x eficiência da produção
  • Redefinição de setores essenciais
  • Protagonismo de países fornecedores de alimentos
  • Importância dos tópicos sanitários
  • Janelas de oportunidades para a abertura de novos mercados.

O que isso significa?

De todos os pontos apresentados pelo professor, o maior destaque vai para a mudanças dos hábitos alimentares, que não querem dizer, necessariamente, que toda a população continuará se alimentando e cozinhando em casa.

“O que acontece é que as pessoas vão ficar ainda mais criteriosas com o seu alimento, seja ele do restaurante ou do mercado. Isso inclui a pecuária desde a cadeia de produção até a de distribuição e fornecimento”, esclarece Bernardino.

Na questão da produção doméstica, o professor alerta para o fechamento de alguns mercados produtivos em benefício da produção local.

“O mundo pós-coronavírus, quando vier, vai precisar de um alimento barato, porque muito das verbas foi alocado no controle da doença. Se existem barreiras comerciais e um consumo diferente, em que saúde e alimentação se tornaram essenciais, como tornar o agronegócio um setor essencial novamente? Por onde começar? Quais equipamentos serão necessários para isso?”, observa.

Sendo um país que possui um volume de alimentos em quantidade, qualidade, diversidade e sanidade, o Brasil terá que se preocupar em atender demandas focadas cada vez mais em cuidados, uma vez que o mundo está de olho na segurança do alimento.

“Nisso tudo se abrem janelas de oportunidades para novos mercados. Se o mundo todo está de olho no Brasil por questões políticas e de preservação ambiental, ele também está de olho no que o país vai fazer para a produção alimentar, porque todos nós precisamos de alimento”, lembra o professor.

No panorama do mercado de pecuária pós-covid-19, o professor reforçou como alguns setores que não possuem exportação vão sofrer mais com a recessão atual e com a retomada mais lenta em um curto prazo.

Atenção máxima

Segundo Bernardino, existem duas coisas importantes no mercado de pecuária para se observar. Primeiro, o produtor e a indústria, que se preocupam constantemente com preços e produtividade. “O preço é importante, mas se eu quiser uma produção saudável e sustentável daqui dez anos, tenho que focar em produzir com qualidade agora”, comenta.

Economia política, preço da saca do milho, soja, boi gordo, bezerro e tantos outros fatores são apontados pelo professor como eventos fora de controle para quem produz, por dependerem da quantidade de compradores e vendedores.

“Existe um dinamismo de mercado que vai além do dia a dia de uma tomada de decisão, porque ele oscila muito. Mas eu tenho o controle interno, dentro da porteira, da indústria e do escritório. A gente precisa focar na gestão não só do custo, mas do rebanho, pensar no que vou produzir e para quem”, reconhece o professor.

A gestão de comercialização envolve olhar para frente, inclusive para preços que oscilam o tempo todo. Por isso, Bernardino afirma que a melhor forma de tentar se proteger é com planejamento. “Porque se eu for para o mercado, ele é feito por demanda e oferta, o quanto o meu consumidor quer pagar e o quanto eu tenho para oferecer.”

Para facilitar, vale se atentar aos seguintes pontos antes de pensar em aumento de preço:

  • O consumidor também está contente com esse aumento?
  • Ele vai querer continuar comprando de mim?

“Isso é importante para a saúde do mercado de pecuária e de tantos outros, pois não posso competir com a demanda sabendo que tenho concorrência. O mercado é aberto e por isso precisamos ficar atentos para qual limite pode chegar esse preço e até quando o consumidor vai poder pagar”, adverte.

O que mais olhar?

Nos próximos meses, a resposta para esta pergunta é dedicar atenção ao relacionamento entre EUA e China, que até então estavam à frente de uma guerra comercial. Conforme explica Bernardino, as duas nações dependem uma da outra, mas a inflexibilidade de Trump não ajudou no quesito relações internacionais.

“Devemos pensar em como isso vai ficar a partir de 2021 e qual impacto restará para outros países da agropecuária.”  

Por fim, o segundo ponto de atenção mencionado pelo professor está diretamente relacionado ao câmbio, que atualmente beneficia a exportação e torna o Brasil mais competitivo no mercado externo. Mas, o que acontece se houver uma queda brusca na cotação? E como ficam os consumidores do mercado interno?

“Em termos de produção, somos um dos maiores do mundo e desempenhamos um papel fundamental no processo, inclusive no mercado de pecuária. Temos volume e oferta, mas é bom ficar atento para uma possível queda da taxa de câmbio e pensar em como vender internamente”, informa.

Economia e consumo de carne

O PIB brasileiro tem uma retração elevada em comparação a outros países do mundo. E por que isso é importante?

Muito do consumo de proteína animal está vinculado com renda. Portanto, um crescimento de empregos em qualquer país significa aumento no consumo de proteína, entre elas a carne bovina.

Outro ponto relacionado pelo professor à macroeconomia mundial e o mercado de pecuária é que, dentre todas as commodities produzidas pelos países do Agronegócio, somente alimentos não tiveram desvalorização. O Brasil, como um dos provedores de alimento mundial, tem um papel muito interessante nisso.

“Mas pensando internamente no agora, ainda temos a questão do desemprego. Uma população sem renda não tem poder de compra e não pode sustentar o comércio interno. O que pode acontecer futuramente com a retração da renda do Brasil? Esse é o grande ponto”, finaliza o professor.

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Autor (a)

Ana Rízia Caldeira
Ana Rízia Caldeira
Boa ouvinte, aprecio demais os momentos em que posso ver o mundo e conhecer as coisas pelas palavras das outras pessoas. Não por menos, entrei para o jornalismo. E além de trazer conteúdos para o Next, utilizo minhas habilidades de apuração e escuta para flertar com a mini carreira de apresentadora nos stories do MBA USP/Esalq, no quadro Você no Camarim.

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