O retorno das escolas é um assunto bastante polêmico. Pais estão receosos e esgotados. Professores precisam entender como tudo vai funcionar para se organizarem. Gestores escolares têm a importante missão de alinhar diretrizes e garantir a segurança de todos. E, no meio disso tudo, estão os alunos, que precisam passar por novas adaptações.
Segundo Rosebelly Nunes, professora do MBA em Gestão Escolar USP/Esalq, cada escola, a partir de orientações gerais e diretrizes governamentais, está organizando a retomada das aulas para atender da melhor forma o seu público.
Nesse ponto, são vários aspectos que precisam ser observados, principalmente a diferença nas abordagens usadas em escolas de Ensino Infantil e nas do Fundamental e Ensino Médio.
“Enquanto existe a preocupação com o bem-estar de uma criança, o adolescente, ao mesmo tempo, requer outro tipo de cuidado. Esse momento é importante, porque todas as escolas estão trabalhando seus próprios protocolos”, explica a professora.
No cenário do retorno das escolas, ela também elencou pontos de prioridade que farão parte da rotina organizacional de todas as pessoas que circulam nesse espaço. Confira neste post do Next.
O começo para a retomada
Atualmente, a Secretaria Geral da Educação e as municipais trabalham fortemente na elaboração de protocolos de segurança para o retorno das escolas, que vão além de disponibilizar tapetinhos para limpar os pés e o álcool gel.
Conforme exemplifica Rosebelly, do ponto de vista técnico, as condições sanitárias incluem muitos outros aspectos, como:
- Limpeza geral da escola;
- Compra de materiais de limpeza;
- Planejamento financeiro da verba para essas compras;
- Aquisição de equipamentos de proteção individual;
- Adaptação da proteção, quando necessário (caso de máscaras com viseiras para crianças pequenas);
- Reposição suficiente de máscaras descartáveis.
Além disso, a professora lembra que as recomendações sanitárias sobre o uso correto de equipamentos precisam ser bem direcionadas e reforçadas. Essa tarefa recai sobre o gestor da escola, que recebe as orientações e diretrizes para compor com sua equipe a organização e segurança do funcionamento da escola.
Assegurando esse ponto, outros serão vistos em seguida.
Além da segurança
O retorno das escolas vai exigir atenção redobrada para a segurança sanitária, que tem complemento com o distanciamento físico e a ocupação parcial das salas de aulas.
No entanto, mais pontos serão prioridade para uma retomada gradual das atividades, começando pela equipe que vai participar disso. “Existe o grupo da limpeza, supervisores, monitores para revezamento e observação do distanciamento entre os alunos. É um trabalho muito grande que o gestor vai ter para fazer essa organização”, cita Rosebelly.
Na recepção dos estudantes, será importante pensar também no acolhimento das famílias. Dessa forma, a professora levanta a questão de como essa ponte pode ser construída.
“Temos que designar uma equipe para fazer todo o caminho e diálogo com essas famílias, para saber como elas passaram todos esses meses, se existiu a condição de levar adiante não só os estudos, como a qualidade de vida de todos os membros da família, por exemplo.”
Aspectos como casos de doenças, desemprego, auxílio emergencial e outros detalhes também devem ser abordados para entender como o período em casa impactou na vida do estudante.
“Muitas vezes houve perdas que desestabilizaram aquelas pessoas. Então é um trabalho que envolve o olhar para as condições individuais. O contato vai informar como está a vida da família e o emocional do aluno”, reforça a professora.
Esse processo também ajudará a organizar a ocupação do ambiente escolar dentro das recomendações, além de fornecer para as famílias que optarem pela volta dos filhos em aulas presenciais a noção de uma logística para deslocamento até a escola que seja possível dentro da nova rotina.
O peso pedagógico no retorno das escolas
O próximo passo é tão delicado quando os demais. O protocolo pedagógico é o momento em que a família, professores, direção e demais equipes se alinham sobre a volta do aluno. Nisso entra a necessidade de saber o nível em que cada um se encontra.
“Temos alunos que possuem acesso à internet em casa e outros não. Temos aluno que aproveitou o conteúdo online 100% e outros pouco ou nada. Então preciso olhar como esses estudantes estão com relação ao conteúdo, se vai haver necessidade de recuperação e de que forma será possível retomar a orientação para que exista motivação”, observa Rosebelly.
Para ela, esse acolhimento é essencial. Por isso, professores, junto com os coordenadores, devem reunir esforços para pensar em como lidar com necessidades tão particulares.
E se o nível de conhecimento se encontra com as possibilidades de ainda existir contaminação pelo vírus, novamente a gestão escolar terá que planejar o seu modelo de retomada. Para isso, Rosebelly traz exemplos em perguntas a serem feitas dentro do contexto individual da escola:
- Ainda existem crianças que são ou possuem parentes no grupo de risco?
- Algum professor é do grupo de risco?
- Terei que manter um ensino híbrido para esses casos?
- Quantas aulas serão em casa e quantas serão na escola?
- Como o professor que trabalha online pode agir de forma parceira para ajudar aquele que está na escola?
- Como será dividida a demanda dos professores para atender a todos os estudantes?
- Na escola, haverá a necessidade de equipamentos para estudo?
- Existem equipamentos suficientes ou preciso adquirir?
- A aquisição vai acontecer por licitação?
- Quanto tempo preciso para conseguir isso?
- Tem alguma justificativa na lei que me ajuda a ter uma licitação?
- Quem fará a compra?
“Alinhando questionamentos desse tipo, a acolhida de todo o organismo escolar tem tudo para ser o mais saudável possível. Se isso caminhar muito bem, aumentaremos a quantidade de alunos no retorno das escolas dentro das condições previstas em protocolos de saúde”, reforça a professora.
Pensando no agora e no depois
Mais do que estar preparado para atender as demandas da educação no retorno das escolas, Rosebelly estende a atenção para o ensino presencial de 2021, que vai receber o número total de estudantes e professores.
“Quando falamos em trazer o aluno para a escola, é bom lembrar que muita gente vai voltar a circular na cidade. Vamos ter pessoas pegando transporte público para chegar na escola. Então não é só a questão de usar máscara, tem muitos fatores sociais para serem repassados”, informa.
Para a professora, isso só reforça a necessidade de se ter sempre um diálogo aproximado com as famílias, independentemente da pandemia, uma vez que o preparo para a educação e segurança da criança é um processo contínuo, mesmo fora da escola e de casa.
“Vimos que muitas pessoas tiveram e ainda têm dificuldades de fazer isso em casa pela falta da formação ou de paciência. Isso é normal, mas acho que a boa vontade de reconhecer a importância de ensinar alguém em todos os sentidos é importante para trazer a visão de que o estudante também tem um papel social em tudo que nos cerca”, finaliza.
Qual a sua opinião sobre o retorno das escolas com o ensino presencial? Não deixe de falar aqui nos comentários!