O cenário vivido em 2020 deu destaque para a Gestão de Riscos, matéria presente no programa do MBA USP/Esalq em Gestão de Projetos. Foram muitas mudanças repentinas, que afetaram – e provavelmente continuarão afetando por mais alguns meses – os setores econômicos, políticos e sociais.
Para explicar sobre a importância de gerenciar as incertezas, o professor Roque Rabechini Junior, do MBA em Gestão de Projetos, comentou sobre o contexto atual e as tendências para o futuro.
Veja as dicas e utilize a Gestão de Riscos a seu favor!
Pandemia
Segundo Rabechini, a pandemia de Covid-19 deve ser analisada a partir da Gestão de Riscos. “Essa situação já é uma realidade e gera impactos que levantam ainda mais incertezas sobre o futuro. A primeira coisa que pensamos, neste momento, é sobre a vacina e quando ela será disponibilizada, por exemplo. E não temos a resposta certa”, comenta.
Ele ainda explica que todo cenário de incerteza vem da falta de informações e a Gestão de Riscos pode ter um papel fundamental para a compreensão. “Podemos começar relacionando os cuidados que precisamos tomar, como distanciamento social, uso de máscaras, lavagem das mãos e evitar aglomerações, com as tomadas de decisão para nos protegermos”, destaca o professor.
Se conseguimos associar que, quando relaxamos na prevenção, o número de casos aumenta nas semanas seguintes, já sabemos o que acontece e podemos tentar evitar e prevenir. “Essa cultura de Gestão de Riscos precisa pegar na sociedade. Assim conseguimos analisar as situações a partir das incertezas, ou das informações que não temos”, enfatiza.
Processos
Continuar aprendendo e aprimorando é essencial, especialmente quando lidamos com projetos. Análises de questões históricas, estimativas, indicadores e informações de especialistas, por exemplo, nos ajudam a prever o que não temos certeza.
“É comum que alguns gerentes de projetos tenham dificuldades em confirmar a realização ou não de um projeto, mesmo com o orçamento em mãos. Por isso, existem técnicas de Gestão de Riscos que ajudam a entender e estabelecer um percentual de realização, considerando as incertezas”, explica Rabechini.
Quanto mais estudamos, mais temos chances de compreender. O cenário de falta de informações ganha uma luz. E nem tudo é negativo. O ambienta dinâmico é ideal para o surgimento de novidades que também podem ser positivas.
Risco positivo
As incertezas afetam os projetos, mas as probabilidades podem ser calculadas para medir os impactos. E esses impactos podem ser positivos ou negativos, grandes ou pequenos. A Gestão de Riscos também significa oportunidades.
Isso quer dizer o risco pode ser positivo. Quer um exemplo? Imagine que você está envolvido em um projeto corporativo com poucos recursos. É uma situação difícil, mas a organização decide investir em tecnologia e contrata um recurso que melhora a qualidade da entrega ou o tempo do projeto. Essa surpresa foi positiva, certo?
E outros fatores podem impactar positivamente um projeto. Aspectos da natureza, por exemplo, podem colaborar com a execução de uma obra e por aí vai!
A figura do gestor de riscos
Por não existir essa cultura de Gestão de Riscos, o gestor de riscos é um profissional que nem sempre é visto com bons olhos. “É como se esse profissional tivesse uma nuvem em cima da cabeça”, brinca o professor. Contudo, a área deve ser encarada como uma forma de reduzir custos e otimizar gastos.
“O gestor de risco, quando posicionado mais estrategicamente, pode vislumbrar oportunidades. Estamos acostumados a trabalhar a gestão de riscos como algo negativo. Mas oportunidades também fazem parte das incertezas e o gestor de riscos pode estudar isso, para conseguir mais clientes, um mercado melhor ou melhorar as condições dos fornecedores. Ele pode ser um explorador.”
Rabechini aposta na preocupação maior das empresas com os riscos na pós-pandemia. “Já notávamos um movimento crescente nesse sentido, mas me parece que as coisas estão ficando mais claras sobre esse tema”, completa.
A ciência do risco
Cabe aos profissionais envolvidos com a Gestão de Riscos de uma organização encontrarem um meio simples e formalizado de comunicar as incertezas e possíveis impactos aos envolvidos em cada projeto.
“A melhor forma é sempre identificar junto às partes interessadas qual o melhor formato para receber essas informações. Pode ser por Whatsapp, mas também pode ser por um sistema de e-mail com aviso de abertura e leitura do conteúdo, por exemplo.”
Muitas falhas de projetos ocorrem porque o risco surgiu e não foi tratado com a devida atenção, comenta o professor. O projeto acabou sofrendo os impactos negativos que o risco trouxe. “Com um sistema eficaz de comunicação não é possível alegar ignorância, porque foi enviado por e-mail, com confirmação de abertura e leitura”, explica.
Engajamento da alta administração
“Resultados” é a palavra-chave para os membros da alta administração. Então, para Rabechini, a melhor forma de conseguir engajamento é mostrando o valor monetário do risco.
“Os resultados precisam chegar aos acionistas, à sociedade e até juridicamente, em alguns casos. Então, quando conseguimos associar a falta de resultados com a falta de Gestão de Riscos temos mais chance de sucesso no engajamento”, diz.
Por serem muito hierarquizadas, algumas empresas podem “prender” a Gestão de Riscos em um ambiente mais prático e pouco estratégico, com dificuldade para subir de patamar, porque é muito burocratizado. Assim, o sistema de comunicação simples e formalizado mencionado é importante para alcançar essas funções mais gerenciais também.
Investimento e retorno
Implementar a Gestão de Riscos pode ser um investimento um pouco pesado, especialmente se esse processo não tiver nenhum antecedente e começar do zero.
E os resultados devem aparecer no médio e longo prazo. As empresas que têm a intenção de continuar relevantes no mercado terão bons retornos com a aplicação da Gestão de Riscos.
“Muitos empreendedores querem retorno imediato ou no curto prazo, mas não se atentam que essas práticas precisam de maturidade, por isso seus resultados são mais perceptíveis a partir de um ano e meio”, finaliza.
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