O Brasil é um dos grandes consumidores de açúcar no mundo, mas também exporta cerca de 70% da produção. Recentemente, o debate sobre alimentação saudável tem ganhado espaço em vários países e isso fez surgir uma nova forma de consumo do produto.
O aumento no consumo de açúcar bruto – mascavo ou demerara – em relação ao refinado pode significar uma mudança na forma de produção. De acordo com o professor do MBA em Agronegócios, Carlos Vian, o debate hoje em dia caminha para um futuro de adequação.
“E então pode ter um impacto no processo produtivo, porque o açúcar chamado de bruto teoricamente é produzido mais rápido”, diz. No entanto, a influência no mercado a médio prazo não deverá ser por conta do consumo no Brasil.
“Um risco que eu acho mais evidente nos próximos anos é com relação a esse avanço da redução de açúcar nos países industrializados. Com isso, a gente pode ter um impacto nos volumes que são comprados do Brasil”, explica.
Ainda assim, isso deve significar mais um ajuste da indústria do que uma crise em si. Atualmente há um crescimento quase que vegetativo da indústria de açúcar. “Porque é um produto muito importante na cesta de consumo do brasileiro, mas lá fora isso já está começando a se alterar. Principalmente porque os hábitos alimentares são diferentes.”
Etanol
O caso do etanol é um pouco mais complexo. É uma questão de sazonalidade, ou seja, há períodos em que o Brasil produz muito e exporta uma parte, embora seja menor; e outros em que o país chega a importar álcool dos Estados Unidos.
Em meados de 2004, havia uma previsão de que o etanol combustível iria “explodir” e ser usado no mundo inteiro. Por isso a expectativa era que o país exportasse muito esse produto. “Mas isso não aconteceu, porque o álcool é considerado como combustível alternativo e por essa razão está muito ligado ao preço do petróleo”, explica Vian.
“Aquele crescimento que se esperava do etanol como combustível não aconteceu também por conta de outras tecnologias: o aparecimento do carro elétrico e o surgimento de transportes alternativos. Muitas pessoas usam o transporte público, bicicleta e carros compartilhados”, completa.
Contudo, houve um certo crescimento dentro do país, embora mais contido do que a expectativa inicial, principalmente por causa da crise do pré-sal, que afetou o preço da gasolina.
Tendências
O mercado de etanol atualmente é estabilizado no Brasil, com crescimentos relativamente pequenos. A tendência é que continue assim no país, diferente do que acontece ao redor do mundo. “Porque o mundo hoje está olhando para outras tecnologias, carro elétrico, carro movido a célula de combustível… Para cá, a realidade do etanol permanece”, afirma.
Já o mercado de açúcar deve sofrer alterações, mas não necessariamente diminuir. Com a tendência de mudança de alimentação, a indústria acompanha e se adapta às demandas dos consumidores.
“Eu acredito que daqui a algum tempo a própria indústria comece a ter um reconhecimento da importância do açúcar mais bruto. Então pode haver impacto no processo produtivo”, conclui o professor.
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