A insatisfação no trabalho é uma realidade para muitos profissionais, mostram inúmeras pesquisas. Desenvolver por horas uma atividade que não faz sentido para sua vida, por vezes, se torna um fardo tão pesado que é impossível de ser “carregado” – e isso, claro, gera muita frustração. Encontrar seu propósito pode ser um motivador e um caminho para conseguir ser mais feliz no trabalho. Fazer essa conexão é difícil, mas possível, comenta a professora Carol Shinoda, uma das coordenadoras do MBA em Gestão de Projetos USP/Esalq. “As pessoas, nas empresas e mesmo fora delas, acabam não refletindo sobre o que realmente querem e, com isso, o trabalho muitas vezes não tem sentido. Talvez até haja consciência de quais são seus valores e propósitos, mas elas não conseguem gerar essa conexão, o que causa insatisfação”, pontua Carol.
O que é propósito?
De forma resumida, propósito pode ser explicado como uma intenção, estável e generalizada, de alcançar algo significativo para você e que gere consequências positivas no mundo, segundo William Damon, professor da Stanford University (EUA), cita Carol. “É algo que você quer realizar a longo prazo, diferente de projeto, que tem uma data para terminar. Você pode levar a vida inteira almejando e desenvolvendo ações relacionadas a seu propósito”, diz Carol. “É algo que você consegue perceber que há progressos, mas não há um término”, diz. Ela explica que alguém que tenha como propósito auxiliar o desenvolvimento de jovens, por exemplo, pode trabalhar a vida inteira para isso e cumprir várias metas, mas esse propósito nunca termina. “O propósito é o que você quer fazer no mundo, o que você vai entregar ao mundo.”
Encontrando-se
Ter um porquê, um motivo para fazer as coisas, pode fazer com que os momentos de dificuldades sejam superados de outra forma, ressalta Carol Shinoda. Neste sentido, ela cita Viktor Frankl, psiquiatra que, prisioneiro em um campo de concentração nazista, escreveu o livro “Em Busca de um Sentido”. A obra aborda que “quem tem um porquê enfrenta qualquer como”. Para o autor, o que permitia que muitos sobrevivessem às condições dos campos de concentração não estava ligado diretamente à condição física, mas aos que conseguiam encontrar algum sentido naquele sofrimento. “Nada proporciona melhor capacidade de superação e resistência aos problemas e dificuldades em geral do que a consciência de ter uma missão a cumprir na vida”, diz na obra. Na maioria das vezes, no trabalho e também na vida, não se pensa muito sobre propósito, comenta a professora. “Pergunta-se ao outro sobre qual o seu trabalho, sobre o que se faz nele, mas não se chega próximo de perguntar se aquilo faz sentido para ele. No máximo pergunta-se se dá para ganhar bem na área.”
Propósito x trabalho
O primeiro passo para fazer a conexão entre propósito e trabalho é refletir sobre quais são os seus valores e analisar se você pode ser um agente de transformação, orienta Carol Shinoda. “Não é porque seus valores não estão presentes naquele trabalho que você não pode pôr em prática. Será que não vale propor para seu gestor ou sócios um modelo diferente de trabalho? Às vezes a gente se sente muito pouco protagonista e, em vez de atuar para a mudança, prefere se calar e fica todo mundo muito preso, pois sempre há uma bengala, algo com o qual você se sabota”, diz Carol. E quando não é possível transformar nada? “Então você precisa se mudar, mas essa não é a única solução”, comenta a professora. Também é preciso parar e pensar se não há crenças limitantes e “quebrá-las”. Conversar com pessoas, ler mais livros, se mobilizar e refletir sobre você e sobre seus valores, também são importantes. “Quando você faz algo que tem sentido para você, você dá o seu melhor e encara os obstáculos como desafios e não como grandes problemas. Quando não tem (sentido), qualquer problema você quer ‘morrer’, porque já não há mais energia para lidar com aquilo. Quando se ama o que faz, você tem energia para enfrentar a situação e essa motivação tem a ver com a energia que vem a partir do que faz sentido para você”.
Dicas de livros
Propósito – A coragem de ser quem somos (Sri Prem Baba) A Coragem de Ser Imperfeito – como aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem você é (Brené Brown) Em Busca de Sentido (Viktor E. Frankl) Ikigai – Os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz (Hector Garcia; Francesc Miralles) Business Model You – o modelo de negócios pessoal (Alex Osterwalder, Yves Pigneur, Tim Clark) Gostou das dicas? Compartilhe em suas redes sociais!
