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Por que as empresas estão olhando para os nossos hobbies?

Durante uma entrevista de emprego, diversas são as perguntas que identificam o candidato ideal para uma vaga. Experiências profissionais e bagagem técnica figuram o padrão de perguntas. A questão que pega a todos de surpresa (ou ao menos foge do que já estamos acostumados em uma conversa com o recrutamento) são nossos hábitos e hobbies.

Essas atividades, que podem ou não constar no currículo, significam muitas coisas para o recrutador. A maior dúvida, entretanto, é se existe uma resposta certa, se um hobby é melhor que o outro ou se ele realmente deve ser exposto.

“Na entrevista você precisa deixar bastante claro as suas expectativas, expertise e técnicas. Mas, se questionado quanto a isso, é interessante expor essas atividades”, conta o gerente de recrutamento da Robert Half International, Leonardo Berto.

Match organizacional

Quando essa questão surge na entrevista o recrutador não deseja surpreender ou ter uma resposta exata do candidato. Segundo Berto, falar sobre hobbies é mais uma ferramenta para melhorar a conclusão sobre as características comportamentais da pessoa.

“Hoje é muito difícil associar o perfil pessoal ao profissional. Falar sobre um hobby ou uma experiência ajuda o recrutador a ter alguns insights de capacidades, experiências e habilidades que às vezes não ficaram claras antes”, relaciona.

O gerente de recrutamento explica que abordar esse tipo de conversa esclarece o tipo de aderência cultural da empresa. Isso é importante em uma realidade de elevadas contratações por qualidades técnicas e demissões massivas por incompatibilidade do comportamento cultural. Para ele, perguntar sobre um hobby pode ajudar a validar se as características de uma pessoa combinam com a empresa.

O caráter comportamental ou cultural do candidato vai dar uma pista relevante para o contratante da capacidade que aquela pessoa tem de se adequar ao ambiente, time e modelo de negócio da empresa.

“É possível ser demitido por falhas comportamentais ou na adaptação cultural. O técnico nós aprendemos e desenvolvemos, já o comportamento e aderência à cultura são características que levam mais tempo. Elas são criadas com nossos costumes pessoais. É superimportante avaliar aspectos comportamentais e culturais no momento do recrutamento”, observa.

Expor hobbies não é uma obrigação

Falar sobre atividades pessoais durante uma entrevista, de forma proativa, não é algo obrigatório, informa Berto. Os hobbies, inclusive, podem ser indicados ou não no currículo. É uma decisão do candidato.

O trabalho voluntário, por exemplo, é uma atividade que tem chamado bastante atenção. Hoje em dia, uma pessoa que tem atuação voluntária apresenta novas habilidades. Dedicação, comprometimento, lealdade e organização são algumas delas.

“Elas podem chamar a atenção de algumas empresas que valorizam esse tipo de atuação, principalmente daquelas que estão muito preocupadas com inclusão, diversidade e responsabilidade social”, aponta.

Berto recomenda que antes de apresentar um hobby, o candidato reflita o modo como ele pode ser impactante. Por exemplo, expor as competências que essa atividade exige em um nível comportamental. “Se eu faço voluntariado, estou demonstrando características de empatia, atendimento e relacionamento com o próximo em diferentes níveis. Essas habilidades podem ser benéficas para o cargo a qual me candidatei”, exemplifica Berto.

Ele ressalta, entretanto, que a apresentação deve estar sempre alinhada com o perfil cultural e comportamental da empresa. O mais vantajoso, para o candidato, é que seu hobby seja valorizado, mas isso sempre dependerá da apresentação.

“Por isso, falar sobre um voluntariado ou dizer que joga futebol porque gosta é muito simplista. Conseguindo trazer as habilidades para a realidade da empresa eleva a conversa para um patamar mais crítico no sentido de qualidade”, aponta.

Soft skills

Um profissional que consegue se comunicar com diferente públicos da empresa demonstra facilidade em criar conexões, ter dedicação, empatia, comprometimento e flexibilidade. Essas são importante soft skills vistas em profissionais do futuro.

“Quando a gente olha para o hobby, estamos tentando extrair algumas dessas skills, mas em um ambiente controlado. O hobby geralmente é algo desenvolvido por paixão ou por uma ligação pessoal. É uma atividade que ajuda a construir essas soft skills”, conta.

Para exemplificar: se uma vaga exige relacionamento com pessoas, mas os passatempos estão ligados a atividades introspectivas, talvez o perfil não faça sentido para essa posição. “Quando exploramos o lado pessoal, acabamos percebendo que esse indivíduo sairá melhor em atividades mais reflexivas. Ele pode até ser mais analítico e se dar bem em controle e geração de informações, por exemplo.”

Perguntar sobre hobbies não é uma nova maneira de avaliar o profissional, mas sim uma das vias para evidenciar um comportamento que aparece, ou não, ao longo da entrevista. Vale lembrar que dificilmente o hobby será uma característica determinante na contratação ou não do profissional. Ele é apenas uma das variáveis que os recrutadores levam em consideração para tomar uma decisão.

Hobby e trabalho podem ser uma coisa só?

A resposta é sim. Mas, a partir do momento em que se faz uma atividade que gosta como profissão, ela passa a ser trabalho e fonte de renda. Segundo Berto, nasce então uma relação profissional em que o trabalho já não poderá ser visto como passatempo. “No trabalho você começa a ter uma atividade sempre mais controlada, com rotinas pré-estabelecidas.”

“Quando se existe uma conexão entre trabalho e hobby, notamos um interesse maior por parte do candidato. Esse é um apelo bastante favorável, que se encaixa na questão da felicidade. Estudos comprovam que as pessoas que trabalham felizes são mais produtivas”, completa.

Em sua experiência, Berto conta que conheceu pessoas que em algum momento tomaram a decisão de empreender ou ter uma carreira relacionada ao hobby. Ele explicou que esse processo pode gerar frustação, pois a atividade que deveria ser prazerosa carrega a obrigação do sustento financeiro.

“A partir do momento em que vira trabalho eu tenho algumas responsabilidades, metas, resultados e expectativas para alcançar, então ele pode perder um pouco do encanto. É muito nesse sentido de entender e estar preparado para fazer essa aliança”, conta.

Algumas pessoas, depois de um tempo, decidem voltar para o mercado, porque descobrem que o hobby não é a carreira. Isso é algo completamente particular, pois existem casos de sucesso. “As cervejarias artesanais estão aí para contar a história”, lembra o gerente.

Você já teve que falar dos seus passatempos em uma entrevista? Como foi a experiência?

Autor (a)

Ana Rízia Caldeira
Ana Rízia Caldeira
Boa ouvinte, aprecio demais os momentos em que posso ver o mundo e conhecer as coisas pelas palavras das outras pessoas. Não por menos, entrei para o jornalismo. E além de trazer conteúdos para o Next, utilizo minhas habilidades de apuração e escuta para flertar com a mini carreira de apresentadora nos stories do MBA USP/Esalq, no quadro Você no Camarim.

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